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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Câmbio afeta projetos no setor de energia solar

Câmbio afeta projetos no setor de energia solar

Em: 19/09/2016 às 15:09h por

O setor de geração de energia eólica teve uma das melhores trajetórias de crescimento entre todos os segmentos industriais do Brasil nos últimos dez anos. Em 2007, a capacidade instalada não chegava a 250 megawatts (MW). No fim de agosto deste ano, o parque eólico chegou a 10 mil MW instalados, o equivalente a 7% da matriz elétrica do Brasil. A fabricação dos equipamentos eólicos é quase toda nacional. Seis grandes fabricantes mundiais de aerogeradores estão instalados no país.
O governo quer repetir essa história de sucesso na indústria de energia solar fotovoltaica, beneficiada pela queda de custo da tecnologia. Por uma série de motivos, porém, o setor tem tido dificuldades para seguir o caminho da indústria eólica.

Dos 109 projetos de geração solar fotovoltaica negociados em leilões recentes e previstos para entrar em operação até 2019 - totalizando 2.947,12 MW -, somente três (somando 90 MW) tiveram as obras iniciadas, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Embora os dados possam conter alguma defasagem, o Valor apurou que apenas os projetos da italiana Enel começaram a sair do papel até o momento.

A tendência é que muitos dos projetos negociados nos leilões tenham os contratos rescindidos pelos próprios investidores, aproveitando a oportunidade aberta pelo governo, devido à sobreoferta de energia no sistema.
O principal motivo para o atraso na construção de parques solares, sobretudo do leilão de energia de reserva realizado em 2014, foi o impacto cambial, porque grande parte dos componentes é importada. Na época do leilão o dólar estava abaixo de R$ 2,50. Com o agravamento da crise, a moeda norte-americana passou dos R$ 4 e hoje está em torno de R$ 3,30.

"Os projetos da Enel Green Power conseguem ir bem, eles têm capital de fora, compram equipamentos de um lote só no mundo inteiro. Outros maiores também vão bem. Mas não são todos, alguns estão atrasados e outros negociam para não entrar [em operação]", afirma Thaís Prandini, diretora da Thymos Energia. "O começo é sempre complicado, não temos uma indústria firme ainda no Brasil, temos que estabelecer. Quanto mais estabelecida, mais sucesso terá nos próximos leilões."
Pelo lado dos fornecedores, pouca coisa já se instalou no Brasil, como os fabricantes de inversores. As células fotovoltaicas - componente mais importante e caro do processo - no entanto, continuam sendo importadas.
Há pelo menos três motivos que tornam o desenvolvimento da indústria solar no Brasil mais difícil do que a trajetória adotada pelo setor eólico. O primeiro é que, em 2009, o Brasil aproveitou o momento de fraqueza da economia global e conseguiu trazer grandes fabricantes mundiais de aerogeradores naquela ocasião. Essa janela de oportunidade não existe mais.

O segundo empecilho é que indústria solar possui forte concentração de fabricantes, a maioria de origem chinesa. A terceira barreira é a fraca demanda brasileira, devido à sobrecontratação de energia no mercado.
Segundo Rodrigo Lopes Sauaia, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), é necessária contratação anual de 2 gigawatts (GW) de capacidade instalada de energia solar para justificar a chegada de grandes fornecedores ao país. Cada fabricante de células fotovoltaicas, diz ele, precisa de uma demanda firme de 500 MW ao ano cada para instalar uma base no Brasil.
O governo planeja fazer em dezembro um leilão de energia de reserva para contratar fontes solar e eólica. A expectativa é que o volume de contratação seja inferior ao proposto pela Absolar. Apenas para efeito de comparação, a China contratou, no ano passado, 15 GW de capacidade de energia solar fotovoltaica, o equivalente a cerca de 10% do parque gerador brasileiro.

Além de assegurar demanda, outro fator fundamental, diz Sauaia, é a necessidade de uma política industrial para o setor. "O Brasil precisa estabelecer incentivos fiscais e tributários para que a cadeia produtiva de equipamentos fotovoltaicos possa competir em igualdade com indústrias de outros países, que se beneficiam de incentivos governamentais."
O executivo ressalta que existe no país uma carga tributária elevada sobre insumos e maquinários necessários para fabricantes de módulos e células fotovoltaicas. "A fabricação no Brasil de módulos fotovoltaicos tem preço 20% a 30% maior do que o do módulo importado por conta da carga tributária excessiva sobre insumos e maquinários", explica Sauaia.
Para estimular o desenvolvimento do setor de energia solar no país, fontes do mercado ouvidas pelo Valor defendem, em um primeiro momento, a flexibilização das exigências de nacionalização de equipamentos pelo BNDES.

Com o cenário complexo para a geração de energia solar de grande escala, o caminho mais atrativo para essa fonte energética no Brasil é o da geração distribuída, por meio de mini e microsistemas instalados em residências e prédios. O Brasil possui hoje pouco mais de 4 mil sistemas de geração distribuída, a maioria de energia solar fotovoltaica, totalizando 25 MW.
Estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam para 150 mil sistemas instalados até 2020. A escala é bem inferior à dos parques solares. Por outro lado, o uso da geração distribuída está mais amadurecido.
Para Markus Vlasits, ex-executivo da fabricante chinesa de painéis solares Yingli Solar e diretor da Faro Energy, empresa de geração solar distribuída, a regulação do setor de micro e minigeração solar evoluiu nos últimos anos. A Faro, assim como outras empresas, tem investido no fornecimento e na gestão do sistema de geração distribuída para clientes. A companhia trata da operação do sistema e da relação com a distribuidora de energia. Para isso, recebe um valor fixo do cliente, inferior ao que ele pagaria à distribuidora, caso não tivesse o sistema.

Fonte: Valor Econômico