Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

Notícias

Setor eólico necessita de orientação do governo para expandir no Brasil

Setor eólico necessita de orientação do governo para expandir no Brasi

Em: 23/08/2016 às 14:17h por

A energia eólica é cada vez mais uma realidade tanto do ponto de vista energético como econômico. Este segmento atualmente é responsável por 7% da matriz energética brasileira, mas até 2020 a expectativa do mercado é que ela possa alcançar 12%. Em termos financeiros, o setor recebeu investimentos superiores a R$ 4 bilhões, com potencial de atingir patamares ainda maiores. 

Contudo, para elevar os investimentos privados no setor, a orientação estatal é fundamental. Esta foi a avaliação da presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum. Durante audiência pública organizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado, nesta segunda-feira (22), a dirigente explicou que o principal desafio para a expansão da energia eólica hoje é o sinal de investimentos para o setor produtivo.

​”Nosso​ ​desafio​ ​não​ ​é​ ​busca​ ​por​ ​mais​ ​recursos.​ ​Recursos​ ​nós​ ​temos​ ​em​ ​grande​ ​quantidade. Precisamos ​fazer​ ​uma​ ​política​ ​adequada​ ​para​ ​cumprir​ ​esse​ ​objetivo’, explicou Gannoum.​ “Construímos​ ​uma​ ​cadeia produtiva​ ​relevante​ ​​e ela precisa ​ser​ ​sustentada.​ ​O​ ​setor privado​ ​está​ ​muito​ ​disposto​ ​a​ ​investir,​ ​mas​ ​é​ ​preciso​ ​ter o​ ​sinal​ ​de​ ​investimento. ​​Estamos​ ​aqui​ ​para​ ​colaborar,​ ​mas​ ​precisamos​ ​de​ ​sinais​ ​adequados”, ressaltou.
A pujança econômica citada por Gannoum pode ser conferida em números. Dados da Bloomberg News Energy Finance mostram que de 2006 a 2015 o investimento em energia eólica saltou de US$ 110 milhões para US$ 4,93 bilhões - um aumento superior a 4000%. Tal número coloca o Brasil na quarta posição entre os países que mais injetam recursos nessa fonte.

O estudo, no entanto, revela também uma queda no patamar de investimentos. Em 2011, eles alcançaram R$ 5,07 bilhões e em 2012, R$ 6,03 bilhões. Estes números estão atrelados ao sucesso do setor em leilões de energia nestes anos. Esta modalidade de contratação, aliás, foi um dos fatores que estimularam a expansão eólica. Segundo a presidente da ABEEólica, o anúncio feito pelo governo da realização de dois leilões para contratação de energia de reserva direcionada para fontes renováveis, entre elas a eólica, é um sinal de posicionamento do governo.

Outro ponto motivador para as empresas aumentarem seus investimentos pode vir do Acordo de Paris - tratado internacional para redução da emissão de dióxido de carbono a partir de 2020 - recentemente ratificado pelo Senado Federal. Pelo documento, o Brasil se compromete a diminuir 37% das emissões de gases de efeito estufa até 2025 e 43% até 2030. Para conseguir alcançar as metas ambicionadas, uma das diretrizes é ter, em 2030, 33% de participação das chamadas novas energias renováveis (eólica, solar; biomassa) na matriz energética nacional.

“Para​​ ​​tal,​​ ​​é​​ ​​necessário​​ ​​fazer​​ ​​muito​​ ​​investimento,​​ ​​fazer​​ ​​muita contratação.​​ ​​Precisa​​ ​​realizar​​ ​​muitos​​ ​​leilões​​ ​​ou​​ ​​criar​​ ​​um​​ ​​programa​​ ​​de​​ ​​incentivos​​ ​​para​​ ​​geração. Hoje,​​ ​​nós​​ ​​temos​​ ​​uma​​ ​​forte​​ ​​participação​​ ​​de​​ ​​eólica​​ ​​e​​ ​​biomassa,​​ ​​as​​ ​​duas​​ ​​somando​​ ​​são​​ ​​11,5%. Se​​ ​​a​​ ​​gente​​ ​​quer​​ ​​chegar​​ ​​​​lá​​ ​​em​​ ​​2030​​ ​​com​​ ​​33%,​​ ​​nós​​ ​​temos​​ ​​um​​ ​​longo caminho​​ ​​a​​ ​​percorrer”, disse.

Evolução

Além do patamar financeiro, Elbia também fez questão de valorizar a evolução da capacidade instalada; da capacidade instalada acumulada; da capacidade instalada nova; geração; e fator de capacidade da energia eólica.

Em 2005, a capacidade instalada era de 27,5 megawatts (MW). Hoje. este número passou para 9,98 gigawatts (GW) - aumento de mais de 360 vezes -, com projeção de chegar a 18,4 GW em 2020. Números de 2015, ainda quando a capacidade instalada no Brasil era de 8,72 GW, levaram ao país à décima posição no ranking das nações com maior produção de energia eólica. 

No que se refere à capacidade instalada nova, também estamos em evolução. Em 2012, éramos o 8º colocado no ranking mundial deste indicador com 1,08 GW. No ano passado, quando produzimos 2,75 GW de energia eólica, saltamos para a quarta posição, atrás da China (30,5 GW), Estados Unidos (8,6%) e Alemanha (6,01%).

Um dos maiores saltos no ranqueamento veio do indicador geração de energia. Há três anos, estávamos em 15º lugar com a produção de 6,43 terawatt-hora (TWh). No ano passado, pulamos para 8ª colocação, com 21,6 TWh. A evolução nos indicadores também está diretamente relacionada a pujança da indústria eólica. Hoje, o Brasil conta com sete fabricantes de aerogeradores que produzem 80% dos componentes.
Na avaliação da presidente da ABEEólica, toda essa transformação no setor eólico nacional foi viável em virtude do potencial dos ventos do país. “A média mundial de fator capacidade ou produtividade é em torno de 24%. A média aqui é superior a 38%. Isso que torna a fonte eólica tão competitiva”, destacou Elbia Gannoun.

Desafios 

Apesar do crescimento do setor nos últimos dez anos, ainda há desafios a serem trabalhados. Para Gannoun, o principal obstáculo é a crise econômica. “Pelo fato da demanda por energia ter caído, a gente percebe uma sinalização de não muita contratação, pelo menos em 2015. Acredito que, na medida em que o cenário econômico mude, voltaremos a contratar energia”.

A dirigente ainda apontou a transmissão de energia, a atração de novos atores, disponibilização de recursos para bancos de fomento, tributos e políticas de incentivos como desafios a serem trabalhados.

Fonte: Agência de Gestão CT&I