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Aneel fará maior leilão da história em 2016, mas cenário afasta investidores

Aneel fará maior leilão da história em 2016, mas cenário afasta invest

Em: 19/11/2015 às 14:26h por

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve organizar para os primeiros meses de 2016 o que promete ser o maior leilão de transmissão da história, mas pode enfrentar dificuldades para atrair investidores nacionais e estrangeiros, avaliam especialistas.
O certame de linhas e subestações transmissoras realizado ontem pelo órgão regulador já foi considerado decepcionante por analistas do setor, com apenas quatro lotes arrematados dos 12 oferecidos. Embora não concorde com a análise e considere que, diante dos problemas atuais do País, a rodada foi "exitosa", o diretor da Aneel José Jurhosa Junior admite que o cenário de crédito mais apertado, o impacto do câmbio sobre o custo dos equipamentos importados e até mesmo o número limitado de empreiteiras habilitadas para construir instalações elétricas no Brasil podem ter afastado alguns interessados. Em entrevista coletiva, ele divulgou que a agência espera realizar ainda antes do carnaval uma nova rodada com ativos cujo investimento total deve somar cerca de R$ 16 bilhões.
"Se nada mudar, o leilão no começo do próximo ano promete ser um novo fracasso, com lotes vazios", acredita a diretora da Thymos Energia, Thais Prandini. "Isso só piora os atrasos do setor e a exposição a riscos do fornecimento de eletricidade."
Para a executiva, a Aneel precisaria se esforçar mais para atrair investidores estrangeiros, nos moldes do que está sendo feito para garantir o comparecimento das empresas internacionais na licitação de hidrelétricas existentes marcada para a próxima quarta-feira (25). Preocupado com as condições de endividamento das companhias brasileiras, o Ministério de Minas e Energia (MME) promoveu uma política especial para estrangeiras e o ministro Eduardo Braga chegou a visitar alguns países em busca de investidores. "Percebemos uma movimentação do governo e o mesmo poderia ocorrer para o segmento de transmissão", aponta a especialista.
Uma alternativa seria oferecer lotes maiores, com mais projetos reunidos em um único pacote, sugere Prandini. De acordo com ela, estrangeiras como a chinesa State Grid têm mais apetite por blocos grandes de investimentos, o que pode ajudar a explicar também porque os grupos internacionais compareceram pouco no leilão de ontem, que tinha muitos pequenos ativos.
Segundo o gerente de regulação da Safira Energia, Fabio Cuberos, a Aneel e o MME poderiam se reunir com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para tentar desenhar modelos de financiamento específicos para os leilões de transmissão, o que resolveria uma das principais preocupações dos investidores: o crédito. Na avaliação dele, a agência providenciou para o certame desta quarta-feira (18) uma série de mudanças na Receita Anual Permitida dos lotes e nos prazos para realização das obras, mas pouco fez para garantir a captação mais fácil de recursos, o que reduziu a atratividade.
Apesar do momento adverso, Cuberos acredita que o leilão do início de 2016 precisa acontecer, já que há uma série de projetos de geração de energia que vão precisar dessas linhas de transmissão para escoarem sua produção. "Não é uma questão de termos um momento oportuno. Os leilões precisam acontecer, mesmo se não houver comparecimento", afirma o especialista. "A perspectiva não é boa, mas qualquer lote arrematado ajuda."
Jurhosa, da Aneel, admitiu que os empreendimentos não leiloados neste certame seriam importantes para garantir a segurança do fornecimento de eletricidade no Sistema Interligado Nacional (SIN). Dos lotes que sobraram, alguns devem ser oferecidos novamente no certame de 2016, afirmou ele, e existe até a possibilidade que a estatal Eletrobras seja acionada para garantir a realização dos investimentos. "Não entendemos ser o mais viável, mas em última instância, se o consumidor for ameaçado de enfrentar restrições de fornecimento, é uma solução que podemos adotar", afirmou o diretor do órgão regulador.
Decepção
As linhas e subestações licitadas ontem somaram R$ 3,4 bilhões em investimentos previstos, ante os R$ 7,5 bilhões que seriam necessários se todos os empreendimentos tivessem sido leiloados. O maior lote oferecido, que incluía 1,3 mil quilômetros de redes em Minas Gerais e representava 32% dos investimentos totais contabilizados no leilão, foi adquirido pelo consórcio TCL, das espanholas Cymi e Cobra.
O lote E, que corresponde a 230 quilômetros de linhas entre o Paraná e Santa Catarina, foi arrematado pela empresa paranaense Copel, que vai precisar das redes para sua operação como distribuidora de energia na região. O lote L, de 83 quilômetros em Goiás, também foi para um consórcio regional, o Firminópolis, formado pelas goianas Celg e CEL Engenharia. Para Thais Prandini, da Thymos, as aquisições foram pontuais e são explicadas pela proximidade das empresas com os projetos. Por fim, a empreiteira Planova arrematou o direito de construir 350 quilômetros em redes de transmissão no Mato Grosso.
Fábio Cuberos, da Safira, diz que já esperava que nem todos os empreendimentos tivessem interessados, mas sua expectativa apontava para um comparecimento maior. Na comparação com o leilão anterior, entretanto, ele acredita que o resultado foi "até aceitável". (DCI)