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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Casa dos Ventos inicia geração em PE

Casa dos Ventos inicia geração em PE

Em: 07/10/2015 às 16:55h por

Um mar de torres de quase 100 metros mudou a paisagem e a rotina dos moradores de Caetés, no Agreste pernambucano. Conhecido pela extrema pobreza, o município, terra natal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e berço de seu programa Fome Zero, ganhou na semana passada um complexo eólico com 182 megawatts (MW) de potência. A riqueza dos ventos, até então invisível, vai render cerca de R$ 2 milhões anuais aos pouco mais de 100 proprietários que arrendaram seus solos secos à Casa dos Ventos, dona do complexo.
O projeto marca também uma mudança na história da companhia. Fundada em 2006 pelo empresário cearense Mário Araripe, sua atuação sempre foi focada na medição dos ventos e em identificar onde sopram as melhores oportunidades no país. Virou referência no setor - cerca de um quarto dos 12 mil MW de geração eólica já vendidos em leilões no Brasil desde 2009 tiveram origem em seus escritórios.
Nenhum projeto, no entanto, tinha sido erguido pela própria companhia. "Outras empresas nos procuravam querendo comprar os projetos antes do leilão", afirma Lucas Araripe, filho de Mário e diretor de novos negócios da empresa. Hoje, a Casa dos Ventos tem 15 mil megawatts (MW) em potencial identificado no Brasil.
A estratégia mudou em 2013, quatro anos após a estreia de fonte eólica em leilões. Com restrições de linhas de transmissão na Bahia, que concentrava a atenção dos principais agentes, a companhia percebeu que era hora de diversificar. De lá para cá, vendeu em leilões 1,1 mil megawatts (MW), com investimentos previstos de mais de R$ 6 bilhões, o que a coloca como a terceira maior companhia em capacidade contratada, atrás apenas da CPFL Renováveis e da Renova Energia, do grupo Cemig.
Navegar sozinho em meio a grandes grupos está no DNA da família Araripe. Mário é conhecido no meio empresarial por ter erguido a fábrica de jipes Troller, uma das poucas montadoras nacionais bem-sucedidas, e que foi vendida em 2006 à Ford. O valor não foi revelado, mas, no mercado, especula-se que ele tenha embolsado cerca de R$ 500 milhões.
No próximo ano, a Casa dos Ventos completa uma década de vida, mesmo tempo que a Troller tinha quando trocou de mãos. Mas Mário descarta a venda, pelo menos por ora. "É um setor intensivo em capital e temos um pipeline muito grande de projetos. Em algum momento vamos precisar de capital, recorrer a um IPO [oferta de ações], mas isso não deve acontecer tão logo", disse ao Valor em uma de suas raras aparições, na inauguração do complexo de Caetés.
Lucas, que faz as vezes de porta-voz, é mais enfático. "Por enquanto, não precisamos de dinheiro. O negócio de desenvolvimento é rentável", assegura. Segundo Araripe, a empresa vai continuar vendendo projetos para se capitalizar e, quando tiver um conjunto maior já contratado em leilões, pode procurar um investidor para dar mais fôlego ao negócio.
A avaliação é que o mercado não sabe colocar preço em toda companhia. "A parte de desenvolvimento representa para a gente um valor que o mercado ainda não é capaz de medir", diz Lucas. A obsessão pela qualidade e previsibilidade dos ventos se traduz nas quase 430 torres de medição espalhadas ao longo do país. A demanda pelos equipamentos era tão grande, que a oferta não foi suficiente e fez com que a companhia abrisse uma fábrica de torres em Fortaleza, com capacidade de produção de 15 unidades por mês.
Com todo esse aparato, a Casa dos Ventos criou um "selo de qualidade" para projetos eólicos, garantido apenas quando o potencial foi medido e as incertezas mitigadas. Agora, o desafio é trazer a mesma qualidade para o negócio de operação e manutenção dos parques. "Estamos estudando muito como ter a melhor eficiência na operação. Isso é uma coisa que o Brasil ainda não sabe fazer direito", diz Lucas.
O desafio da construção está sendo superado com sucesso, avalia. O complexo de Caetés, que consumiu R$ 864 milhões em investimentos, foi erguido em apenas dois anos. Parte dos parques de Ventos do Araripe I, no Piauí, com 210 MW, começou a ser entregue no mês passado e conclusão ocorrerá até dezembro. A partir de então, outros três complexos entram em operação até abril de 2017. "Tem sido um desafio muito grande, mas tudo está ocorrendo dentro do esperado", afirma Lucas.
A empresa espera ainda vender entre 200 MW e 300 MW nos próximos leilões, marcados para este mês e para janeiro. "Vai depender do preço-teto, mas podemos entrar", diz. Outra frente deve ser a energia solar, mas, assim como na eólica, a empresa vai seguir seu rito de mitigar incertezas. "Temos projetos cadastrados, mas não achamos que ainda é o momento certo da maturidade da fonte", explica. (Valor)