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Enel mantém plano de investir € 3 bilhões até 2019 no Brasil

Enel mantém plano de investir € 3 bilhões até 2019 no Brasil

Em: 15/09/2015 às 11:31h por

A companhia de energia italiana Enel, quarta maior empresa da Itália e que já desponta como maior investidora em energias renováveis do Brasil, mantém seus planos de investir € 3 bilhões no país até 2019. A atual crise político-econômica brasileira não desanima o presidente do grupo Enel, Francesco Starace. E o grupo se mostra atento a oportunidades de aquisições de ativos de distribuição de energia no país, bem como ao programa de desinvestimentos lançado há poucos meses pela Petrobras. E tem especial interesse pelos ativos a serem vendidos pela Eletrobras - distribuidoras nas regiões Nordeste e Norte, além da Celg, em Goiás.
O executivo, que assumiu a presidência da companhia em maio de 2014, demonstrou tranquilidade na sexta-feira, quando recebeu o Valor para entrevista exclusiva no escritório da empresa em Roma, a respeito das notícias envolvendo a economia brasileira. Nem o rebaixamento do país pela agência de classificação de risco Standard & Poors, que também incluiu duas controladas da Enel - as distribuidoras Ampla e Coelce -, preocupa o presidente do grupo no momento. Ele explicou que apenas 4% do faturamento total da Enel, que foi de € 75,8 bilhões no ano passado, depende do Brasil. "Nossas empresas brasileiras têm dívidas expressas em reais e mesmo a desvalorização do real não tem impacto sobre as companhias", acrescentou Starace.
Para o executivo, mais importante do que a crise que o país vive no momento, é a forma como se vai enfrentá-la. "Se pensássemos que o governo do Brasil e as instituições brasileiras não são capazes de enfrentar uma crise, aí sim não faríamos os investimentos planejados", disse. "Mas não é o caso", destacou.
Atualmente, as empresas do grupo Enel têm capacidade instalada de gerar 1.364 megawatts (MW) no Brasil. Mas os planos vão além desse número. Após participação agressiva no último leilão de energia, onde adquiriu o direito de construir três plantas fotovoltaicas com capacidade de gerar 553 MW de energia, a Enel Green Power - braço de geração de energias renováveis do grupo - se tornou a maior empresa de geração solar do país.
Estão previstos investimentos de US$ 600 milhões (em torno de R$ 2,4 bilhões pelo câmbio atual) para o início da construção das unidades solares de Horizonte (103 MW), Lapa (158 MW) e Nova Olinda (292 MW). Em novembro de 2014, a empresa ganhou em leilão a concessão do projeto solar Ituverava, com dois parques de geração de energia com capacidade de 254 MW. Outros 220 MW estão em construção em projeto eólico em Serra Azul e há 102 MW que serão gerados pela hidrelétrica de Apiacás, no Mato Grosso. No mundo, conforme números da companhia relativos ao ano passado, a energia solar respondia por 5% da capacidade de geração da Enel Green Power - soma 9,9 gigawatts (GW).
Apesar do rápido crescimento, o executivo explica que o objetivo não é disputar a liderança do mercado brasileiro, que, segundo ele, é muito grande. Mas, ter um melhor balanceamento entre capacidade de geração e distribuição de energia, desequilibradas no país. A meta é crescer com unidades menores, com geração de energia por meio de fontes renováveis e não com grandes projetos estruturantes como os de hidrelétricas que demoram entre oito e dez anos para ficarem prontas.
"Achamos que esse tipo de investimento [hidrelétricas] talvez seja mais adaptado para as nações do que para as sociedades. Hoje é muito difícil convencer a população a aceitar uma hidrelétrica grande. E é muito difícil fazer no tempo e nos custos previstos. E enquanto todo esse tempo passa, tudo muda, e a tecnologia muda mais rapidamente ainda", disse Starace ao explicar porque a Enel desistiu de participar de projetos de grandes hidrelétricas em favor de centrais menores.
Ao avaliar a crise brasileira atual, o presidente mundial da Enel afirma que parte dela nasceu fora do Brasil. "Há uma contração da demanda por commodities e uma desvalorização do real que depende também de tensões dos mercados fora do Brasil, uma vez que a contração da economia chinesa tem impacto sobre o Brasil. E depois existem os problemas internos. Então, tem de tudo", diz. "Mas temos confiança nas instituições brasileiras, que são bastante sólidas. E, também, que a democracia brasileira enfrentará esses problemas", avalia o executivo. O que o Brasil pode fazer, afirma Starace, é resolver o problema da corrupção e agir de maneira incisiva para "mostrar ao mundo que está mudando". Em seguida, acrescenta, é preciso fazer reformas econômicas.
A Enel, que está posicionada como a segunda maior geradora de energia da Europa em termos de capacidade instalada e geração de caixa, atrás da francesa EDF, vai rever os planos de investimentos em novembro. Segundo Starace, o objetivo é adequar os valores programados em março – a empresa prevê investimentos globais de € 34 bilhões entre 2015 e 2019 -, uma vez que vários países, não só o Brasil, enfrentaram desvalorizações cambiais. Além do real ele cita, como exemplos, também o dólar, o rublo russo, e o rand sul-africano.
"Todas as moedas mudaram [desde o lançamento do plano]. Em novembro vamos fazer outro plano para ver como nos adaptar. Mas não acredito que haverá uma redução no Brasil - somente um ajuste cambial. E veremos, também, com mais cuidado qual será a reação do Brasil a essa crise", disse o executivo.
Ao responder a uma pergunta sobre o que ele, um italiano, aconselha aos brasileiros considerando que o juiz responsável pela Operação Lava-Jato, Sergio Moro, se inspirou na Operação Mani Pulite (Mãos Limpas), que resultou na prisão de aproximadamente 800 pessoas na Itália nos anos 90, Starace afirma que a experiência italiana deve ajudar a entender que não se deve acreditar que todo o sistema é corrupto.
"Não é verdade que todos os empresários e toda a economia brasileira sejam corruptos. Não pensem que todo o sistema econômico, que toda a política, que todas as instituições são corruptos. Nunca é assim. E eu não acredito que esse seja o caso do Brasil. Inclusive, se eu achasse isso não estaríamos investindo no país", disse. Não que ele avalie que o judiciário brasileiro não terá trabalho, mas é preciso viver e ter a certeza de que nem todos são corruptos. "Se começarmos a pensar que todos são assim, acabou". (Valor)