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EPE vê baterias viáveis em aplicações comerciais e residenciais

Em: 09/07/2025 às 08:47h por Canal Energia

Análise aponta nichos para armazenamento ser explorado como recurso distribuído no Brasil e Grupo Moura espera definição do LRCAP e menor carga tributária para expansão de sua unidade industrial de lítio no Nordeste

 


A inserção de baterias atrás do medidor já é viável aos segmentos industrial, comercial e residencial do ponto de vista do custo-benefício financeiro em alguns casos segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A análise aponta nichos para o armazenamento ser explorado como recurso distribuído na autoprodução, visando evitar injeção de energia na rede, e na substituição de geradores a diesel pelos consumidores de maior porte.


Durante o primeiro Meet Up do CanalEnergia em parceria com o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel/UFRJ), o especialista em recursos energéticos distribuídos (RED) e energia solar da EPE, Gabriel Konzen, destacou duas aplicações mais competitivas. A primeira envolvendo a gestão do consumo e uma alternativa ao combustível fóssil nos horários de pico, com a viabilidade dependendo do delta tarifário das distribuidoras de energia.


Mas Bahia, Pará e Sergipe aparecem com as melhores perspectivas nesse ponto. Na simulação realizada pela entidade, o preço final do sistema de 3 MWh e autonomia de 3 horas é de R$ 1.920/kWh, numa base de dados com colaboração da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (ABSAE). Há também alguns fatores diferenciais, como redução de ruído, logística mais fácil em relação ao diesel, menor tempo de resposta, além da questão ambiental.


“A bateria é competitiva para esses consumidores, mas tem casos do grupo A em que a migração para o mercado livre pode prejudicar essa viabilidade, com desconto na tarifa da Tusd”, alerta o consultor técnico, pontuando que tal fator não consta na base da simulação.

Já a outra aplicação apresentada no evento é para o consumidor residencial de Geração Distribuída que deseja utilizar a bateria para evitar injeção na rede elétrica. Foi utilizado uma faixa referencial de R$ 3.500/kWh (base compartilhada pela Greener), indicando que a conta pode fechar em alguns casos, numa mensagem diferente dos últimos Planos Decenais de Expansão de Energia (PDE).


“Instalando somente o sistema de GD se tem um payback de dois anos, mas com a bateria vai para a faixa de cinco anos, o que não é proibitivo, já que esse era o retorno da GD anos atrás” , explica Konzen.


Entre as considerações está o Valor Presente Líquido (métrica financeira para avaliar a lucratividade de um investimento) como não viável devido ao atual modelo sistema de compensação de energia elétrica ainda ser muito favorável. O consumidor injeta energia, pega de volta e paga uma pequena parcela do fio B, pós lei 14.300. Mas a realidade atual é de muitos fornecedores, empresas e integradores comercializando a solução conjunta, além dos sistemas o grid como solução para o problema da inversão de fluxo e no atendimento da Região Amazônica.


“Para alguns consumidores é aceitável esse payback considerando outros benefícios que são difíceis de quantificar economicamente, como aumento da resiliência”, complementa, referindose a projetos híbridos que podem oferecer um backup para cargas críticas. Konzen também ressalta que esse armazenamento não será isolado, sendo importante ter um desenho regulatório de mercado que proporcione ainda mais os REDs, citando tarifas responsivas, gerenciamento e agregação dos recursos e a operação ativa do sistema de distribuição.


Nova fábrica espera viabilidade

Também convidado para o Meet-Up, o gerente de engenharia de aplicação da Baterias Moura, Francisco Silva, pontuou que a empresa já possui clientes no Pará e na Bahia que possuem a solução de baterias e também estão no mercado livre com desconto na Tusd, fazendo referência a fala anterior do especialista da EPE. E trouxe um case com duas usinas atendendo 30 mil moradores dos Sistemas Isolados, de 5,7 MW e R$ 50 milhões em investimentos. “A modicidade tarifária está na economia de 6,7 milhões de litros de diesel e 18 mil toneladas de CO2 evitadas à atmosfera”, ressalta o executivo.


Outro destaque trazido por ele é o recente aporte de R$ 850 milhões para ampliação da fábrica da companhia na cidade de Belo Jardim (PE), no intuito de entrar no mercado de reciclagem de chumbo e para uma metalúrgica com o forno movido a oxigênio para tratar os resíduos gerados das baterias utilizadas, com cada componente tendo a destinação adequada para determinados segmentos, como o lítio indo para a indústria cerâmica.


“Iniciamos também uma terraplanagem de 100 mil metros quadrados para uma nova indústria do lítio, que dependerá da definição do LRCAP, com o Sisol e uma carga tributária adequada para uma indústria que vai gerar muitos empregos”, informa Silva. Sobre esse ponto, na análise da EPE, a carga tributária nacional aparece com 70,8% de representatividade na instalação do sistema de armazenamento via baterias no Brasil.

 

Alemanha, Austrália e Itália

Na avaliação do mercado internacional, o uso de baterias é puxado pelos veículos elétricos, mas as alternativas estacionárias e atrás dos medidores vem crescendo de acordo com a EPE. A Alemanha se destaca com acesso a financiamento e tarifas dinâmicas, com o segmento solar residencial por lá sendo composto em 80% dos casos por sistemas de Storage. Austrália e Itália também aparecem bem, todos com algum nível de subsídios, tarifas dinâmicas e participação em mercados de eletricidade.

 

Já o Brasil aparece com níveis considerados médios na análise, mas muito aquém ainda no acesso aos mercados de eletricidade. Além disso, é preciso considerar que o preço da tecnologia vem caindo nos últimos anos, mas há uma série de outros custos adicionais aos projetos, como inversores, cabeamento, margens de venda, fazendo o valor final ser mais elevado.


Armazenamento de longa duração será o maior desafio

Na visão do Coordenador da área de Geração e Mercados do Gesel, Roberto Brandão, o amadurecimento da regulação, queda dos preços e menor carga tributária, a indústria das baterias terá múltiplas aplicações e vai avançar rapidamente no país. E pensando mais no futuro, ele vê o armazenamento de longa duração como um dos maiores desafios para esse mercado.


“Tivemos o primeiro leilão na Inglaterra com um mínimo de oito horas de autonomia. E a grande questão é se a bateria vai ter competitividade com as usinas reversíveis?”, comentou Brandão, enquanto Gabriel Konzen, da EPE, lembrou que a partir de algumas pesquisas, outros elementos para além do lítio, como o fluxo de vanádio, podem ser mais indicadas para esse tipo de aplicação, com mais horas de autonomia