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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Amazonas deve investir em transição energética justa para melhorar qualidade de vida a partir de soluções locais

Em: 20/03/2024 às 11:02h por IEMA

Governo, órgãos públicos e organizações do terceiro setor se reuniram em Manaus para discutir soluções para falta de energia elétrica pública e ao desenvolvimento local

 

A Companhia de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (CIAMA), a Associação Amazonense de Municípios, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), o Instituto E+ Transição Energética e o WWF-Brasil promoveram o seminário “O papel dos municípios na transição energética do Amazonas – eletricidade, transporte e economia”, no dia 12 de março, em Manaus. Estiveram presentes o vice-governador, dez prefeitos presencialmente, 13 representantes de prefeituras de modo on-line, secretários e outros representantes de 19 municípios amazonenses, especialistas no terceiro setor, da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), acadêmicos e empresas de energia renovável. Ao todo, somaram mais de 150 pessoas presencialmente e 70% dos municípios foram contemplados.

A lógica aplicada para o fornecimento de energia elétrica em outras regiões do Brasil é inadequada para a Amazônia. As matrizes energéticas mais sustentáveis – economicamente, socialmente e ambientalmente – devem ser as principais alternativas de geração de energia elétrica para comunidades e regiões excluídas eletricamente no Amazonas, seja pelas dificuldades físicas ou geográficas. As energias renováveis podem contribuir para sanar o apagão histórico vivenciado por populações tradicionais no em pleno século XXI. O encontro destacou que há uma subutilização dos potenciais econômicos regionais, inclusive devido à falta de energia elétrica, ressaltando a importância de uma abordagem mais centrada nas vocações e nas necessidades da região.

“Não precisa derrubar floresta para ter atividade. Vamos discutir como é que a gente pode conseguir esse avanço”, apontou Aluizio Barbosa, presidente da Ciama. O evento contou com a abertura do vice-governador Tadeu de Souza e demais promotores da atividade. Em seguida, houve apresentações sobre financiamentos para transição energética para municípios (WWF-Brasil), bioeconomia e desenvolvimento industrial regional (Instituto E+), atividades produtivas na floresta em pé e acesso à energia elétrica (IEMA), Programa Comunidades Sustentáveis (CIAMA/ Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, SEMA) e mobilidade elétrica fluvial (Associação Brasileira de Geração Distribuída, ABGD).

“Um evento que fala sobre a transição energética, tão importante para a qualidade de vida da nossa população. Para deixar um legado de inclusão social em todas as comunidades do interior. Este evento não deixa de ser uma contribuição para todo o Brasil”, afirmou Tadeu de Souza. As apresentações trataram principalmente do potencial renovável da Amazônia, especialmente, no que se refere à geração de energia elétrica com fontes limpas, o que contrasta com a sua dependência de combustíveis fósseis. De modo geral, a região enfrenta dificuldades em termos de infraestrutura, particularmente no que se refere à energia elétrica, e socioeconômicas, com necessidades específicas de sua população não atendidas. O poder público local reconhece esses desafios, mas precisa de condições para fornecer os recursos necessários para melhorar a qualidade de vida local. Isso inclui, por exemplo, incentivos a uma economia sustentável, que não dependa da exploração da floresta.

Investimento em sociobioeconomia

“Não é necessariamente sobre criar algo novo, mas potencializar o que já está sendo feito aqui. A Amazônia precisa tornar competitivas as atividades já existentes e, a partir disso, evoluir essas cadeias para processos mais complexos”, ressaltou Edlayan Passos, especialista em energia do Instituto E+, referindo-se à bioeconomia. O potencial é enorme: embora a região concentre 30% das florestas tropicais do mundo, responde por apenas 1% das atividades de exportação de produtos florestais.

O cacau é um exemplo nesse sentido. Apesar de ter condições macroeconômicas inferiores às do Brasil, a Costa do Marfim domina 40% desse mercado, que movimenta quase dez bilhões de dólares por ano. Um outro exemplo é a produção de castanha, um mercado com grande potencial de escalonar atividades produtivas, mas que atualmente é dominado pela Bolívia. “A Amazônia está aquém de seu potencial, e a estratégia seria expandir o que já está em curso, gerando mais empregos e renda”, completou Passos.

No entanto, a falta de energia impacta a economia local na Amazônia. O acesso à energia é fundamental para impulsionar a produção e a renda, especialmente em atividades extrativistas. “Deixamos de ter renda, de gerar mais empregos, produzir mais e com melhor qualidade pois não temos acesso ao meio: energia elétrica”, destacou Vinicius Oliveira da Silva, do IEMA. Embora haja políticas públicas voltadas para a região, estas precisam ser mais direcionadas para atender às cadeias produtivas locais. “Mais de 11,6 mil dos estabelecimentos agropecuários do Amazonas não têm acesso ao serviço público de energia elétrica”, conta o especialista.

Especificidades amazônicas

Para facilitar o transporte de pessoas na região favorecendo o acesso, por exemplo, à saúde, educação e incentivo à economia local, Aurélio de Andrade Souza, da ABGD, propôs o uso de barcos elétricos com emprego de energia solar, substituindo gradativamente as embarcações a gasolina ou diesel. Segundo Souza, esses barcos poderiam, inclusive, ser empregados para carregar outros veículos – visto que devem ser equipados com baterias. “Além disso, investimentos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para impulsionar esse setor e promover o desenvolvimento sustentável”, completa o pesquisador.

Na região amazônica, onde a matriz energética é predominantemente baseada em diesel, políticas públicas desempenham um papel crucial no desenvolvimento dessa mobilidade elétrica e da sociobioeconomia. É em cada município que as coisas acontecem. A solução para os problemas locais está neles, basta o poder público e sociedade civil atuarem em conjunto com a especificidade de cada um para melhorar a qualidade de vida da população, preservar o meio ambiente e ainda agregar muito valor ao que já é produzido na Floresta Amazônica.