Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição
de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso
Durante os diálogos da COP16 na quarta-feira (30), o Instituto AYA, dedicado a promover a transição da economia para uma matriz sem emissão de gases estufa, divulgou um estudo que aponta caminhos para a realização deste feito.
Nos cálculos apresentados, o país poderia adicionar R$ 2,4 trilhões ao PIB até 2030, passar a crescer até 5,5% ao ano a partir de 2035 e criar 10 milhões de empregos verdes no percurso rumo ao netzero, que pode ser atingido antes mesmo da meta formal para 2050.
O Brasil tem vantagens competitivas na transição que ocorre em escala global, e poderia se beneficiar disso, aponta o documento. Setores como biocombustíveis (especialmente para aviação), mineração com foco em baterias e carros elétricos e hidrogênio verde têm potencial para atender não só a demanda brasileira, mas também mercados internacionais. Além disso, o desenvolvimento de cadeias como o cacau, dentro do contexto da sociobioeconomia, aparece como trunfo.
"Temos dois cenários: ser apenas exportadores de matéria-prima ou agregar valor com uma produção nacional que também atenda à demanda internacional. A transição energética mundial passa pelo Brasil, e a grande oportunidade é fazer com que ela agregue valor e complexidade à nossa economia", afirma Patrícia Ellen, cofundadora do AYA e ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. "Hoje, somos importadores líquidos de cacau, quando poderíamos liderar essa cadeia produtiva e gerar empregos na região amazônica. Isso fortaleceria o sequestro de carbono e o desenvolvimento de produtos sustentáveis", analisa.
O setor de energia é considerado o de maior potencial para a ascensão brasileira na economia verde, segundo o instituto. A transição para uma economia eletrificada e livre de emissões, no entanto, vai demandar desenvolvimento tecnológico. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o 14º país mais preparado para uma transição energética “equitativa, segura e sustentável”, menciona o relatório. O principal desafio pendente é expandir o grid nacional de forma a beneficiar todas as regiões. Na geração de energia limpa, o Nordeste apresenta maior potencial.
A matriz energética brasileira, que alcança cerca de 88% de sua geração vinda de fontes renováveis, principalmente de fontes hidrelétrica e eólica, deve seguir expandido a oferta de eletricidade livre de carbono e tornar o país atraente para corporações que buscam uma infraestrutura para ajudá-las a diminuir suas emissões, pontua o AYA.
Os desafios, no entanto, são do tamanho das cifras. O Brasil descarbonizado, na projeção do relatório, será um país com exportações diversificadas em relação à pauta atual, e novos mercados podem ter impactos nem sempre positivos sobre outros já existentes.
Um exemplo é a ascensão do SAF, biocombustível para aviação produzido a partir de matérias-primas renováveis, como óleo de cozinha usado, gorduras, cana e outros resíduos da agricultura, que promete uma redução de emissões entre 70% e 90%. Uma vez que depende de matéria-prima do agro, lavouras destinadas à produção de combustível poderiam disputar espaço nos campos, e pressionar o preço dos alimentos, e possivelmente, das terras, destaca o relatório. Este cenário, contudo, é mais provável para países com menos área disponível, como os europeus.
Um Brasil descarbonizado teria novas oportunidades com países e blocos econômicos comprometidos com os esforços em mitigar o aquecimento global e a perda de biodiversidade. Estando apto a negociar sob novas legislações, como em breve será o caso de parceiros como a União Europeia, será um diferencial competitivo, pondera o documento.
"Podemos liderar a exportação de produtos agrícola produzidos de forma sustentável, com sistemas agroflorestais, que sequestram carbono e preservam biodiversidade. Temos potencial de produzir painel, turbina e liderar em componentes para energia renovável, além dos biocombustíveis, que têm um potencial enorme no mundo descarbonizado", afirma Ricardo Assumpção, sócio líder de sustentabilidade e CSO Latam da EY.
O executivo destaca ainda produtos florestais, como madeira certificada, tecnologia e serviços ambientais, minerais estratégicos e proteínas alternativas (vegetais) como possíveis componentes de peso das exportações no futuro próximo.
Diversificar parceiras será estratégico para o país diminuir a dependência da China, uma nação que não estava no top 5 das exportações brasileiras em 2000 e hoje é o principal comprador de produtos do Brasil com US$ 104 bilhões (R$ 600 bilhões) negociados em 2023, quase três vezes o valor dos Estados Unidos, segundo maior parceiro.
O caminho para este amadurecimento passa por garantir o atendimento da demanda por bens sustentáveis ??e de maior complexidade, fomentando o investimento por meio de acordos bilaterais, ajuste equitativo de tarifas e barreiras comerciais, ressalta o relatório da AYA. Os instrumentos de financiamento lançados no Brasil até agora (US$ 53,1 bilhões) cobrem menos de 50% do investimento necessário para financiar a transformação do país para uma economia de baixo carbono (US$ 130-160 bilhões).
O Sindenergia é uma importante voz para as empresas do setor de energia em Mato Grosso, promovendo o diálogo entre as empresas, o governo e a sociedade, com o objetivo de contribuir para o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental