Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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O papel das comercializadoras na abertura do mercado de gás

Em: 08/07/2024 às 08:55h por EPBR - jornalismo e política energética

Comercializadoras têm se movimentado atrás de oferta de gás, num mercado ainda carente de liquidez

PIPELINE As comercializadoras independentes de gás natural ainda não conseguiram se firmar no mercado, mas aos poucos esse grupo de empresas começa a se movimentar para entrar no jogo. O ano de 2024 tem trazido algumas novidades nesse sentido.

A primeira onda de abertura do mercado foi capitaneada pelos produtores de gás nacional, que decidiram criar seus próprios braços de comercialização e vender, eles mesmos, seus próprios volumes – sobretudo para as distribuidoras de gás canalizado e, salvo exceções, para algumas poucas indústrias no mercado livre.

Equinor, Galp e Shell, no offshore, e 3R Petroleum, Origem Energia e PetroReconcavo, no onshore, concentraram a maior parte do suprimento de gás privado dos últimos dois anos.

Mas há uma mudança em curso no mercado, hoje: Edge, Energisa, GasBridge, MGás, Tradener e Vibra Energia são alguns exemplos de comercializadoras que têm se movimentado atrás de oferta de gás (nacional e importado), num mercado ainda carente de liquidez, e que começam gradualmente a compor suas carteiras de suprimento.

Algumas delas têm conseguido aproveitar janelas de oportunidades de aquisição de gás de terceiros e fechado seus primeiros contratos de venda – seja para consumidores finais no mercado livre, seja para as distribuidoras no cativo e até mesmo para os demais supridores num ainda incipiente mercado secundário.

A seguir, a gas week apresenta um quadro desses agentes que se movem em busca de uma afirmação no mercado.

AS NOVAS ENTRANTES

Dentre os movimentos mais recentes estão a Vibra e a Energisa. As duas companhias têm se reposicionado estrategicamente, ante a transição energética, para ampliar a carteira de soluções e produtos aos seus consumidores. Entrar na comercialização de gás natural faz parte desse contexto.

A Vibra, que tem a distribuição de combustíveis como principal negócio, está ensaiando os seus primeiros passos como trader de gás e está montando seu portfólio. Em junho, obteve autorização da Arsesp, a agência reguladora paulista, para começar a atuar em São Paulo, no maior centro de consumo do país.

A empresa tem contrato de venda de molécula com a mineradora Samarco no mercado livre; e um acordo de compra de gás com a PetroChina – em 2023, a Vibra já havia celebrado um outro contrato de aquisição com a Shell Energy.

São contratos MSA (do inglês Master Sale Agreement) – tipo de acordo que define as bases que permitem às partes serem mais ágeis em potencias negociações futuras.

Não significa que a Vibra esteja, necessariamente, comprando e vendendo gás, mas sim montando a sua carteira de fornecedores e clientes. A empresa, no entanto, contratou capacidade na malha de gasodutos da Transportadora Associada de Gás (TAG), para retirada de 40 mil m³/dia no Espírito Santo até o fim do ano, o que sugere que a empresa está ativa no mercado.

A Vibra vem se reposicionando no mercado de gás: vendeu a CDGN, que atua com gás natural comprimido (GNC); e a ES Gás, distribuidora do Espírito Santo. A empresa quer se valer de sua rede B2B (consumidores finais), para explorar o serviço de comercialização não só de gás, mas também biometano, com a compra da ZEG Biogás.

A Energisa fez um movimento diferente: entrou no mercado de gás em 2023 via distribuição, com a compra justamente da ES Gás e dobrou a aposta no segmento com a aquisição da Infra Gás – que lhe proporcionará entrar no capital de mais cinco concessionárias estaduais do Nordeste.

A comercialização de gás é o passo seguinte. Está à cargo da (re)energisa, divisão do grupo que atua no mercado livre de energia e geração distribuída solar, por exemplo. A companhia aposta, assim, na base de clientes que possui no setor elétrico.

A atividade guarda sinergia também com a atuação na distribuição de gás. Com a operação da ES Gás, o grupo Energisa ganhou experiência com compra de molécula no mercado. A concessionária capixaba vem diversificando sua base de supridores para além da Petrobras e tem, hoje, contratos também com a Galp e 3R Petroleum.

A Energisa obteve no início do ano autorização da Arsesp para comercializar gás em São Paulo e vem prospectando clientes no mercado livre. Em junho, por exemplo, a empresa participou de um encontro de aproximação com a indústria paulista de cerâmica.

A exemplo da Vibra, o grupo também busca montar uma carteira de suprimento de gás natural e biometano.

O GÁS BOLIVIANO

Na falta de liquidez no mercado brasileiro, as comercializadoras independentes têm buscado opções de compra de gás na Bolívia.

A Tradener foi uma das pioneiras, nesse sentido, ao fechar um contrato de importação de gás interruptível com a YPFB. A empresa, contudo, tem tido dificuldades para desenvolver o negócio, salvo algumas poucas operações pontuais no mercado de curto prazo.

Delta também tem tentado colocar de pé o seu braço de comercialização de gás, com gás boliviano.

O destaque na importação de gás boliviano este ano, porém, tem sido a MGás (joint venture entre Macaw Energies e Mercurio Partners). A comercializadora tem contrato de suprimento com a Logás, empresa de distribuição de GNC, também da Macaw; e vem revendendo gás boliviano para outros supridores no Brasil.

A MGás é um fornecedor recorrente de gás de curto prazo para a Galp e, pontualmente, para a Edge.

A comercializadora da Compass, aliás, é outra que tem apostado no gás boliviano para complementar o seu portfólio de gás.

A empresa estreou este ano no mercado livre (tem contratos para venda de molécula para ao menos três indústrias do setor cerâmico) e tem montado sua carteira de suprimento com gás boliviano (revendido pela MTGás, a distribuidora do Mato Grosso); e com gás do pré-sal da Shell, por exemplo.

A Gas Bridge também chegou a tentar desenvolver seu negócio com gás boliviano, sem sucesso, e vem mudando a sua posição no mercado.

A comercializadora mudou de dono, com a saída da Lorinvest e a entrada da Pluspetrol – produtora argentina.

Mas enquanto a importação de gás de Vaca Muerta ainda não vira realidade, a empresa tem se movimentado no mercado interno, explorando janelas de oportunidade de aquisição de gás de terceiros, como a PetroReconcavo. E acordos de venda de curto prazo com a Vale no mercado livre.