Em: 27/03/2015 às 15:26h por

O baixo crescimento do PIB em 2014 veio acompanhado da maior retração anual em duas décadas dos investimentos das estatais, que recuaram 21% no ano passado, em termos reais, anulando toda a expansão conquistada nos 5 anos anteriores, mostra estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).

As estatais federais (produtivas e financeiras) investiram R$ 95,6 bilhões no ano passado, ante um total de R$ 121 bilhões em 2013, em valores atualizados pelo IPCA, contribuindo decisivamente para tornar ainda mais baixa a taxa de investimentos no país. A formação bruta de capital fixo (medida do PIB do que se investe em produção e principal termômetro da taxa de investimentos no país) ficou em 19,7% do PIB em 2014, segundo divulgou nesta sexta-feira (27) o IBGE.

Segundo a pesquisa “Investimentos das Empresas Estatais Federais em 2014: A Grande Retração”, dos pesquisadores José Roberto Afonso e Bernardo Fajardo, a participação dos investimentos das estatais no PIB caiu de 2,28% em 2013 para 1,78% no ano passado – uma queda de 0,5 ponto em apenas um ano. O pior resultado até então tinha sido o de 2011, com retração de 0,22 ponto. Com a queda no ano passado, a participação das estatais nos investimentos feitos no país retornou ao mesmo nível em que se encontrava antes de estourar a crise internacional de 2008.

Taxa de investimentos no país
A participação das estatais no total de investimentos vinha crescendo e tinha triplicado em 20 anos. De 3,75%, em 1996, passou a 7,28% em 2002 e chegou a 12,92% em 2013. No ano passado, segundo o estudo do Ibre-FGV, o peso do investimento das estatais na formação bruta de capital fixo caiu para 11,08%.

Os dados do estudo foram compilados a partir das estatísticas do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, vinculado ao Ministério do Planejamento, com números a partir de 1994. Para os pesquisadores, a queda em 2014 é mais um indício do fracasso da chamada “política anticíclica” – medidas adotadas pelo governo para tentar anular os efeitos da crise e estimular os demais setores da economia.

“A longo dos últimos anos houve um aumento expressivo da formação bruta de capital fixo. Porém, muito desse crescimento foi devido apenas às estatais, que não conseguiram gerar uma rede de investimentos em cadeia. O PIB está cada vez mais dependente do estado e os gastos das estatais não conseguiram gerar investimentos sustentáveis no setor privado”, disse ao G1 o pesquisador Bernardo Fajardo.

“Não tem problema nenhum elevar o investimento de estatais. Mas sem medidas complementares e facilitar o crédito e criar uma estrutura de financiamento para o setor privado, isso não se sustenta a longo prazo”, completa. O PIB está cada vez mais dependente do estado e os gastos das estatais não conseguiram gerar investimentos sustentáveis no setor privado” Bernardo Fajardo, Ibre-FGV

Aperto nas contas públicas
Segundo o pesquisador, o forte recuo dos investimentos das estatais está diretamente relacionado ao maior aperto nas contas públicas e maior dificuldade de financiamento das empresas. De acordo com o estudo, em 2014, a grande maioria dos projetos (93,5% do total) foi bancada com recursos próprios.

Do total de investimentos financiados via Tesouro Nacional, apenas 62% (R$ 2,36 bilhões) foram realizados. Já o valor de projetos bancados com endividamento ficou em menos de 3% do valor inicialmente planejado. “Na hora que o governo federal começa a fechar a torneira, dificulta muito a situação. As estatais tiveram que pisar no freio, pois houve uma preocupação generalizada de como controlar os gastos correntes no longo prazo”, explica Fajardo.

Os pesquisadores lembram que as empresas do grupo Petrobras e Eletrobrás estão, pela lei, excluídas do cumprimento de metas fiscais para geração de superávit primário – economia para pagar os juros da dívida. “Mesmo podendo se endividar mais (e efetivamente realizando esta possibilidade), as grandes estatais não conseguiram sustentar em 2014 o mesmo patamar de investimento fixo realizado nos anos anteriores. O pior, nesse caso, é que isso ocorreu justamente no momento em que a economia brasileira mais precisava de um impulso na taxa de investimento e na produção”, destaca o estudo. (G1)