Em: 26/03/2015 às 16:22h por

Representantes da indústria e do governo federal debateram a situação da água durante reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMA), em Brasília.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifesta, nesta semana mundial da água, que o alerta em relação ao uso racional dos recursos hídricos se mantenha em todos os setores da sociedade, independentemente do verificado aumento no volume de chuvas nos meses de fevereiro e março. Lideranças empresariais reunidas nesta quarta-feira (25), no Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (COEMA) da CNI, debateram a situação da água no país, em especial nas regiões Sudeste e Nordeste. Representantes do governo federal e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também participaram da reunião, em Brasília, para apresentar cenários e discutir soluções conjuntas para a escassez hídrica.

O presidente do COEMA e da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (FINDES), Marcos Guerra, ressaltou que o setor produtivo tem tratado com prioridade as políticas de incentivo ao uso eficiente da água. Na avaliação de Guerra, a atual crise é reflexo da falta de gestão por parte do poder público. “As questões hídricas e energéticas do país foram muito mal cuidadas nos últimos anos. Foram feitos poucos reservatórios”, disse.

Ao comentar o cenário hídrico nacional, o secretário-geral do COEMA e gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Shelley Carneiro, destacou que a indústria tem desenvolvido “trabalhos fantásticos” de recirculação e reuso da água. Ele defende que o setor industrial contribua com o governo na busca de soluções para uma gestão mais eficiente da água. “A indústria tem capacidade tecnológica e pode fazer parte de um processo mostrando que é possível haver uma solução mais adequada para a gestão da água no Brasil”, afirmou Carneiro.

CRÍTICAS – A secretária-executiva do Conselho Empresarial para o Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Patrícia Boson, criticou a forma como os governos vêm tratando a água. “A culpa não é de São Pedro. São Pedro simplesmente escancarou os nossos atos e as nossas omissões. Quando é que o poder público vai levar a sua capacidade técnica a sério?”, questionou. Patrícia, porém, elogiou a capacidade de técnicos do governo, embora tenha lamentado o fato de alguns planos não saírem do papel no âmbito político.

O diretor da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Medeiros, observou que o desafio para o poder público é encontrar uma forma mais sustentável para a região Sudeste, onde a demanda por água vem aumentando consideravelmente a cada ano. Segundo ele, o ministério trabalha em projetos específicos para atenuar as repercussões da escassez hídrica nos estados da região Sudeste.

PARCERIA – O secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Carlos Gadelha, frisou que a indústria é “exemplar” em termos de eficiência hídrica e energética. “Há casos de mais de 98% de reuso da água em empresas”, frisou. Ele detalhou que a pasta definiu como prioridade dar contribuição para que a indústria assuma seu papel de protagonista na estratégia de desenvolvimento. Para o secretário-executivo do COEMA, a parceria entre MDIC e CNI será fundamental para a retomada do crescimento da indústria brasileira. “A gente tem conseguido avançar muito em pontos essenciais”, afirmou Shelley Carneiro.

De acordo com o diretor de Competitividade Industrial do MDIC, Alexandre Comin, o ministério fez levantamentos que mostram que empresas e empregos estão em risco em regiões de escassez hídrica. “O MDIC está fazendo levantamentos, mas ainda não divulgou números. Os primeiros resultados são preocupantes. Existe uma quantidade enorme de empregos e indústrias expostas a riscos nas bacias do Cantareira e do Paraíba do Sul”, frisou. Comin destacou que o MDIC entrou em contato com o Inmetro e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estruturar uma mudança de modelo na gestão dos recursos hídricos. “Buscamos identificar como a indústria brasileira pode contribuir neste esforço”.

Ao traçar um panorama dos níveis dos reservatórios para a geração hidrelétrica no curto e médio prazos, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, alertou que em todas as principais bacias do país choveu abaixo da média histórica em 2014. Segundo ele, seria necessário que os reservatórios do Sudeste chegassem a um nível médio de 32% no fim de abril para que não registre índice abaixo de 10% no fim de novembro. Uma das propostas do ONS é firmar com o governo federal uma articulação constante para tratar da gestão de situações críticas de escassez da água. “Temos uma característica que não pode se manter. Acabou a crise vai todo mundo para sua casa e espera a próxima”, pontuou.