Que o preço da energia vem subindo, especialmente durante este ano, os brasileiros sabem e percebem mensalmente ao pagar a conta. Talvez o que muitos não percebam é que a alta está bem acima da inflação. É o que afirma o Instituto Brasileiro de Economia e Finanças (Ibecon), que realizou um estudo que mostra que o valor da tarifa subiu acima da inflação para os clientes de quatro em cinco distribuidoras no período entre 2004 e 2014. Nesses dez anos analisados, a variação chegou a atingir até 167,7% – o que equivale a quase duas vezes e meia a inflação do período, de 68,75%.
A constatação foi feita levando em consideração o preço da tarifa da CPFL Paulista, responsável pela distribuição energética no interior de São Paulo, que atingiu a maior variação do país nesses dez anos com a alta de 167,7%. É como se, por exemplo, o quilo do feijão custasse R$ 5 em 2004 e passasse a custar R$ 13,35 em 2014. Em outras distribuidoras a variação não chegou a ser tão estrondosa, mas causou efeitos consideráveis. Como a Elektro, que atende o interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul, em que o aumento desde 2004 chegou a 104,7%.
O principal motivo para a alta na energia elétrica, sobretudo em 2014, tem um motivo: a falta de chuvas e o acionamento constante das usinas térmicas. A geração dessa energia suja, proveniente da queima de combustíveis fósseis, tem um gasto muito maior do que se teria com a produção feita por fontes renováveis – além de ser muito mais prejudicial ao meio ambiente. O custo médio das termelétricas está calculado em R$ 900/megawatt-hora (MWh), contra os R$ 180/MWh referente às Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). A diferença, claro, já foi incluída na tarifa com o reajuste de até 40% realizado em agosto em alguns estados do país.
Nem a chamada “MP do Setor Elétrico”, assinada pela presidente Dilma Rousseff em 2012 e que causou uma diminuição média de 20% na tarifa, alivia a situação. A previsão é justamente a contrária, de acordo com auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU): essa medida gerou uma dívida de R$ 61 bilhões que terá que ser paga pelos consumidores. Ou seja, novos reajustes irão acontecer a partir de 2015.
Outro caso que irá onerar mais os brasileiros nos próximos anos é o da redução de R$ 13 para R$ 9 bilhões a destinação de recursos do orçamento da União para o Auxílio à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em setembro deste ano que esses R$ 4 bilhões em subsídios cortados da conta também serão pagos pelos consumidores.