A indústria poderá ter que pagar um custo extra com energia de quase R$ 40 bilhões até 2018, segundo um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres. Metade dessa conta, cerca de R$ 20 bilhões, ficariam com os associados da Abrace, que teriam um impacto de 47% nos valores pagos atualmente, por quatro anos. As projeções da associação levam em conta impactos potenciais de aumentos do custo da energia, transmissão e encargos.
Camila Schoti, coordenadora de Energia da Abrace, conta que a intenção da pesquisa era entender como está a condição de mercado para a recontratação de energia, visto que a maioria dos consumidores livres se contrata por cinco anos e teria, portanto, parte dos contratos vencedo até 2018. A associação levou em consideração preços em torno de R$ 350/MWh a R$ 400/MWh para contratos em 2015 com duração de um ano, e entre R$ 250/MWh e R$ 300/MWh com vencimento em três anos. “Há uma preocupação muito grande com relação a isso. A nossa base de associados é de grandes consumidores de energia e a maior parte deles é eletrointensivo. Se ele estiver numa situação de recontratar energia a R$ 400/MWh, esse valor não cabe no preço do produto”, analisa Camila.
Ela diz que uma saída para evitar uma recontratação a preços tão altos seria o governo destinar parte das cotas das concessões a vencer para a indústria como um todo. “Os consumidores livres não tiveram esse benefício e seria uma alternativa para reverter esse quadro”, comenta. Uma outra alternativa que está sendo estudada pela Abrace seria a permissão para os consumidores livres participarem da expansão de energia, ou seja, nos leilões poderem comprar energia em pool assim como fazem as distribuidoras. “Claro que tem que levar em consideração especificidades de cada agente. Uma grande indústria não pode assinar um contrato de 30 anos como uma distribuidora faz. Por isso, não é algo tão simples, mas que tem que ser estudado”, aponta.
A Abrace ainda se mostra preocupada com relação à Conta de Desenvolvimento Energético e aos custos de transmissão. Camila explica que não se sabe ainda qual será a parcela que o Tesouro aportará na conta e, portanto, também não se sabe o que ficará com o consumidor. Dependendo do aporte do governo, os gastos com a CDE podem crescer significativamente para o consumidor. Quanto à transmissão, Camila diz que há imprevisibilidade e que só no reajuste deste ano a Tust subiu em média 70% para os associados da Abrace. “A medida que grandes projetos de geração ou vários tem seu cronograma postergados, eles são isentados de pagar a parcela da RAP e isso cai sobre o consumidor”, afirma.