O Brasil tem uma matriz energética baseada na produção hidrelétrica, responsável por mais de 65% da geração. No entanto, principalmente nos dois últimos anos uma fonte não-renovável vem crescendo e se apropriando de uma fatia maior do mercado: a térmica. O motivo alegado constantemente para esse aumento da produção de energia suja é a falta de chuvas, que diminui o nível dos reservatórios hídricos e a geração hidrelétrica. A PSR, consultoria especializada no setor elétrico, porém, aponta outro motivo.
“O volume de chuvas nos últimos dois anos não foi baixo a ponto de diminuir tanto assim a geração das hidrelétricas. Ocorre que seus reservatórios estão esvaziando mais rapidamente do que era de esperar”, analisa Mario Veiga, presidente da PSR. Ou seja, a capacidade de geração dessas usinas não é aquela que se imaginava e/ou se tinha anteriormente.
Três são as possibilidades levantadas pela PSR para essa diminuição de eficiência hidrelétrica percebida no país em especial neste ano, sem considerar o fator nível pluviométrico:
Assoreamento dos reservatórios: lama e demais sedimentos podem ter se acumulado no fundo dos reservatórios utilizados pelas hidrelétricas, independente do motivo (correntes dos rios, por exemplo). Isso poderia causar uma diminuição no volume de água disponível para ser utilizada pelas usinas na geração de energia elétrica.
Roubo de água: outro possível causador desta queda de capacidade é a utilização ilegal da água que serviria para encher os reservatórios. Segundo o estudo da consultoria, esse desvio seria feito para alimentar os sistemas de irrigação de propriedades agrícolas localizadas próximas a esses rios.
Perdas de eficiência: a terceira hipótese diz respeito à perda natural de eficiência das hidrelétricas com o passar do tempo. Essa possibilidade existe já que, caso não passem por testes para verificar a eficiência dos equipamentos, as usinas podem se tornar menos produtivas.
A consequência é conhecida: uma maior utilização das usinas termelétricas e um gasto mais elevado que se teria com o uso de fontes renováveis. A nível de comparação, o preço médio das térmicas é de R$ 900/megawatt-hora (MWh), contra R$ 180/MWh das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Além do fator econômico e também ambiental, já que essas usinas contribuem com a poluição e afetam o ambiente com a queima de combustível, existe a questão de que as térmicas devem ser utilizadas apenas para medidas de emergência – não para uso constante, como substitutas das hidrelétricas.
Levando em conta esses tópicos, o trabalho da PSR conclui que “a única certeza é que a conta de luz vai ficar mais cara”. E já vem ficando, como percebido com o reajuste de até 40% em alguns estados do país que entrou em vigor recentemente – a primeira das altas previstas para acontecerem nos próximos anos. Além desse custo extra com os combustíveis importados para que as térmicas funcionem, o consumidor ainda terá que arcar com os R$ 4 bilhões que foram retirados do orçamento de auxílio à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e outros R$ 61 bilhões da dívida gerada pela implementação da “MP do Setor Elétrico” em 2012.
Uma solução para este fenômeno que vem ocorrendo no Brasil seria a expansão do quadro das Pequenas Centrais Hidrelétricas. Atualmente, existem cerca de 4,7 mil megawatts (MW) em operação no país – o que corresponde a 3,55% da matriz energética. No entanto, essa geração poderia ser muito maior com os 639 projetos de pequenas usinas que estão parados à espera de análise do setor técnico da Agência Nacional de Energia Elétrica: mais de 7,2 mil MW, uma potência superior ao de meia Usina Hidrelétrica de Itaipu.