Em: 06/05/2015 às 16:10h por

A economia brasileira registrou em abril o maior ingresso líquido de recursos (entradas menos retiradas de valores) em quase quatro anos. Segundo números divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Banco Central, US$ 13,1 bilhões ingressaram no país em abril. Trata-se do maior ingresso líquido de recursos mensal desde julho de 2011 – quando US$ 15,82 bilhões entraram no Brasil.

Boa parte dos recursos ingressaram em um único dia. Em 28 de abril, US$ 5,72 bilhões entraram na economia brasileira – um dia antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) subir os juros para 13,25% ao ano, o que representa os juros reais (após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses) mais altos do mundo.

Para o economista Jason Vieira, dois motivos explicam o forte fluxo da moeda no país em abril. O primeiro foi a queda acentuada das ações de diversas empresas na bolsa. “Isso incentivou maiores investimentos de capital estrangeiro nessas companhias”, avalia.

O segundo foi a nova elevação da Selic no fim do mês, que concentrou boa parte da entrada de recursos no dia 28 de abril. O fechamento do primeiro trimestre também ajudou a atrair dólares em abril, diz Vieira. “Empresas fora do país precisaram enviar recursos para as que estão no Brasil, também em função do atual cenário macroeconômico”.

No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, segundo o BC, também houve mais ingresso do que saída de recursos do país. Neste período, US$ 17,87 bilhões entraram no Brasil. Em igual período de 2014, US$ 4,84 bilhões haviam entrado no país.

Impacto no dólar

O forte ingresso de recursos registrado em abril favoreceria, em tese, a queda do dólar. Com mais moeda norte-americana no mercado, seu preço tenderia, teoricamente, a ficar menor. No mês passado, de fato, o dólar recuou. No fim de março, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 3,19, caindo para R$ 3,01 no fim de abril. A queda do dólar, no mês passado, a primeira em sete meses, foi de 5,57%.

Segundo Vieira, esse movimento ajudou o recuo do dólar, mas não determinou a queda de abril. A perspectiva de que o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) não deve elevar os juros teve maior peso na entrada de dólares do país, analisa o economista.

Além do fluxo de recursos, outros fatores também influenciam a cotação do dólar no Brasil. Entre elas, estão o comportamento da economia norte-americana, as sinalizações sobre a política monetária nos Estados Unidos, os indicadores da economia brasileira – que registraram desempenho ruim em 2014 – além de declarações de integrantes da equipe econômica e da oferta de contratos de “swap cambial” (que funcionam como venda de dólares no mercado futuro) pelo BC brasileiro, entre outros.

Retirada de estímulos nos EUA

Nos Estados Unidos, a expectativa dos analistas é de continuidade da retirada de estímulos à economia, que começa a dar sinais de recuperação. Em 2015, há previsão de que pode haver até mesmo aumento de juros nos Estados Unidos, o que tenderia a gerar retirada de dólares do Brasil, em direção aos EUA.

Indicadores da economia brasileira

Os indicadores da economia brasileira, que pioraram nos últimos anos e os fracos resultados dos últimos meses, também impactam a cotação do dólar no Brasil. As contas externas registraram em 2014 um déficit de 4,17% do PIB, o que configura o pior resultado em 13 anos (e um dos mais altos do mundo).

Ao mesmo tempo, as contas públicas brasileiras tiveram o primeiro déficit da história no último ano, segundo informou o Banco Central. Após o pagamento de juros da dívida pública, foi registrado um déficit de R$ 343 bilhões – o equivalente a expressivos 6,7% do PIB no ano passado.

Swaps cambiais

Outro fator que tende a influenciar a cotação do dólar foi o anúncio do Banco Central de que não iria renovar o programa de oferta diária de swaps cambiais (que funcionam como uma venda futura de dólares), que venceu no dia 31 de março. O programa vigorava desde agosto de 2013.

O Banco Central, no entanto, informou que vai renovar integralmente os contratos que vencem a partir de 1º de maio, “levando em consideração a demanda pelo instrumento e as condições de mercado”. Segundo a instituição, os leilões de venda de dólares com compromisso de recompra “continuarão a ser realizados em função das condições de liquidez do mercado de câmbio”.

Os swaps cambiais são contratos para troca de riscos. O Banco Central oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda norte-americana. No vencimento deles, o BC se compromete a pagar uma taxa de juros sobre valor dos contratos e recebe do investidor a variação do dólar no mesmo período. (G1)