A perspectiva de racionamento que ronda o setor elétrico é apenas mais um exemplo dos problemas infraestruturais e, consequentemente, do custo Brasil (conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no País). Nem mesmo o leilão realizado recentemente com o intuito de cobrir o déficit financeiro e de energia das concessionárias ajudou a trazer os preços para patamares que otimizem os resultados das empresas. Isso porque um leilão não pode ser um jogo combinado para sinalizar (supostamente) ao mercado que está em curso uma política consistente que aponta para abastecimento seguro e em preços ’módicos’. Como convencer uma empresa a vender por preço abaixo do mercado senão por meio de um subsídio, que na prática traria o preço para a faixa do mercado? No entanto, alguém terá que pagar por esse benefício, mesmo que não seja o favorecido.
A crise que vivemos hoje é consequência da falta de planejamento de longo prazo, ação fundamental quando a comparação dos gastos revela que um projeto bem estruturado custa cerca de 5% da obra e a realidade é um sobrecusto das recentes obras que frequentemente ultrapassam 50% do valor previsto. A partir desse cenário, estouro de cronogramas, orçamentos insuficientes, construções precárias, inadequadas e incompletas tornam-se inevitáveis. Hoje é tudo feito de última hora, com planejamento sofrível e especificações ruins, resultando em sérias dificuldades de definição de preço nas concorrências. Sem planejamento, não são contratados projetos básicos para o Brasil ter projetos na prateleira, prontos e bem concebidos, para serem ’lançados’ na hora adequada.
A solução é fazer concorrência séria, com proposta técnica e proposta comercial. Ninguém contrata um médico pelo valor que ele cobra, mas sim por sua experiência e eficiência, e com engenheiros não é diferente – a real solução é a meritocracia. Os brasileiros esperam mais dos políticos do País – eles deveriam ser os fiscais das ações e patrocinadores dos planos plurianuais, fortalecedores das regras, das modernas regulamentações, dos planos voltados para o futuro, envolvidos com a edificação das bases de um país sólido, livre, fraterno e igualitário.
Por isso, dizer que venda da energia por R$ 268,33/MWh durante o leilão, quando no mercado de curto prazo o preço teto estipulado encontrava-se em R$ 822,83/MWh, foi um sucesso merece cuidado. Deve-se ter uma visão global, com planejamento de longo prazo. Voltar a ter planos decenais para todos os segmentos. Há energia disponível para 2015? Já sei que as águas de março não vieram. E isso não um é bom sinal.