Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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A reforma do setor elétrico brasileiro: o Brasil na contramão do desenvolvimento sustentável

A reforma do setor elétrico brasileiro: o Brasil na contramão do desen

Em: 21/08/2017 às 13:54h por

Há tempos tem-se discutido a necessidade de se realizar uma reforma da organização do Setor Elétrico Brasileiro (SEB). Por repetidas vezes, nesses últimos anos, houve risco elevado de ruptura de abastecimento e um aumento muito expressivo do nível de preços do sistema. A estruturação das atividades do SEB em torno de um planejamento centralizado e comandado pelo poder concedente, na figura do MME, tem sido incapaz de garantir a contento a expansão da oferta e a modicidade tarifária.

Além disso, também fracassou no objetivo de aumentar a participação das renováveis na matriz elétrica. Como mostra a figura abaixo, o País é dos poucos países onde a matriz elétrica tem se carbonizado, indo na contramão da evolução tecnológica e da preocupação pelas mudanças climáticas, associadas às emissões poluentes, em que se destacam as emissões provenientes da produção e do consumo de energia. Em um cenário de crescente urbanização e eletrificação, a evolução da composição da matriz de geração do setor elétrico deve receber atenção especial.

As reformas e reestruturações dos setores elétricos ao redor do mundo têm sido realizadas com o objetivo duplo de promover a difusão de fontes renováveis de energia (respeitando os compromissos assumidos em Paris – COP 21 e combatendo a dependência por combustíveis fósseis) e de se adaptar às novas tecnologias que impactam o uso e o consumo de eletricidade. A descarbonização e modernização dos sistemas energéticos tem sido tratada como a transição energética e traz consigo diversos desafios.

As inovações tecnológicas vieram para ficar. Não se pode colocar limites à evolução tecnológica nem se saber exatamente o alcance das mudanças a partir de sua integração. Não se trata mais de extrapolar o passado, pois as inovações recentes possuem potencial disruptivo, capazes de desestruturar o sistema elétrico. Destaca-se aqui o surgimento dos prosumers, que eventualmente poderão prescindir das distribuidoras e da rede; as novas tecnologias de estocagem; a transformação da rede, que se torna inteligente (digitalizada), permitindo melhor gestão da demanda, mas que pede nova arquitetura, com redes mais descentralizadas (mini redes e maiores possibilidades de ilhamento); o avanço acelerado das fontes intermitentes no parque gerador, entre outros.

O relatório do WEF (2017) sobre o futuro da energia destaca 4 pontos básicos para a integração a contento das novas tecnologias no setor elétrico: (i) reforma do paradigma regulatório para melhor acomodar a difusão da geração distribuída; (ii) difusão de infraestrutura que permita o desenvolvimento de novos modelos de negócio e a construção do futuro sistema energético; (iii) a redefinição do papel do consumidor, empoderado, inserido em um sistema elétrico digital e interativo e (iv) incorporação de novos modelos de negócio para atividades inovadoras de distribuição e comercialização varejista, capazes de se adaptar à chamada 4ª Revolução Industrial – marcada pela integração dos avanços em diversas áreas do conhecimento, o avanço da biotecnologia, a automação de diversas atividades e a intensificação de processos.

A simples citação dessas inovações nos permite apreender a complexidade da transição energética. Os 4 pontos citados englobam aspectos tecnológicos, institucionais e organizacionais. Desse modo, a transição pede agenda de longo prazo, que, de forma estruturada, conduza o setor à harmonização de suas necessidades e superação de seus desafios. Somente novas formas de coordenação poderão garantir que a transição energética não seja acompanhada de perda de segurança de abastecimento.

Fonte: Ambiente Energia