Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

Notícias

México abre setor e gera disputa entre fornecedores

México abre setor e gera disputa entre fornecedores

Em: 29/09/2016 às 14:07h por

A abertura do setor elétrico do México, depois de décadas de controle estatal, está criando uma disputa acirrada entre os fornecedores de energia limpa e derrubando os preços, em um momento em que as energias renováveis ganham força na América Latina.

O governo do México, depois do lançamento este ano de um mercado atacadista de eletricidade operado por um sistema independente, realizou seus primeiros leilões este ano onde as empresas fazem ofertas para vender energia renovável através de contratos de longo prazo com a estatal de serviços públicos Comisión Federal de Electricidad (CFE) a partir de 2018.

No leilão de ontem, contratos de compra foram fechados para 8,9 milhões de megawatts-hora de eletricidade, a maioria de usinas solar e eólica - o equivalente a cerca de 3% do atual consumo de eletricidade do México. Um megawatt é suficiente para alimentar cerca de 1 mil casas.

O preço médio, de US$ 33,47 por megawatt-hora (MWh), ficou bem abaixo do preço máximo de US$ 60 fixado pela CFE, a maior empresa elétrica do país e a única que fornece serviços públicos para residências e outros pequenos consumidores. O valor também ficou abaixo dos US$ 41,80 por MWh registrado no primeiro leilão, em março.


A CFE foi a única compradora nos dois primeiros leilões, embora grandes consumidores de energia como as indústrias devam participar como compradores em futuros leilões a partir de 2017. "Isso é bom para o México. Dois dos principais objetivos da reforma [do setor] elétrico são reduzir os preços da eletricidade e ampliar a geração de combustíveis limpos no México, e, por esses critérios, acho que os leilões têm sido um sucesso", diz Gabriel Salinas, sócio do escritório de advocacia internacional Orrick Herrington & Sutcliffe LLP, que representa empresas nos leilões e em outras áreas do setor no país.

A energia limpa está se espalhando por toda parte na América Latina.

Em agosto, o Chile fechou contratos para entregar 12,4 milhões de megawatts-hora por ano de energia, principalmente eólica e solar, por um período de 20 anos a partir de 2021. O país planeja realizar leilões para mais 19,9 milhões de megawatts-hora nos próximos anos. Os preços médios no Chile foram de US$ 47,59 por megawatt-hora, 63% abaixo do leilão anterior.

Na Argentina, as propostas para construir fábricas com capacidade de 1 mil megawatts de energia renovável superaram em mais de seis vezes o que o governo buscava, o que eleva a possibilidade de que mais contratos sejam fechados quando os resultados do leilão foram conhecidos em outubro. A Argentina tem como meta ter 10 mil megawatts de energia renovável até 2025, o que representa 20% de sua geração de energia.

O México, um país produtor de petróleo, depende principalmente de gás natural e outros combustíveis fósseis para alimentar o setor elétrico. Mas a tecnologia está derrubando os custos da energia renovável ao ponto de ela conseguir competir em preço com as usinas movidas a gás natural.

"Os preços estão surpreendentemente baixos no México, e o nível de interesse ainda está elevado", diz Sergio Pozzerle, sócio do escritório de advocacia Sidley Austin LLP, que tem sido atuante nos setores de energia do México e da América do Sul.

O México gera cerca de 20% de sua eletricidade por meio de fontes limpas, incluindo energia hidroelétrica e nuclear, e pretende elevar esse percentual para 35% até 2024, com metas intermediárias de 25% em 2018 e 30% em 2021.

Embora fazendas eólicas operem no país há anos, o volume de energia solar tem sido insignificante. Agora, as duas tecnologias estão competindo diretamente entre si para fornecer energia a preços melhores. A energia solar tem sido a grande vencedora nos leilões mexicanos, conquistando 74% dos contratos no primeiro e 54% no segundo. A energia eólica ficou em segundo lugar.

"Sem dúvida, o preço da energia solar caiu muito ultimamente por causa da tecnologia. Os custos da energia eólica têm recuado mais lentamente e vão continuar a cair mais lentamente", diz Rafael Mateo, diretor-presidente da espanhola Acciona Energía, que ganhou contratos de projetos eólicos no México e no Chile e outro solar no México.
César Hernández, vice-ministro de eletricidade do México, diz que deixar o mercado competir e decidir as tecnologias a serem oferecidas se mostrou ter sido a decisão correta. "Se tivéssemos tomado essa decisão desde o início, através de medidas burocráticas, a cesta solar seria muito pequena, porque a competitividade daquela tecnologia não era clara", diz ele. "Não nós sabíamos disso, e o leilão nos ajudou a descobrir."
As empresas que conquistaram contratos nos leilões mexicanos devem construir uma infraestrutura capaz de gerar 5 mil megawatts de energia limpa nova com investimentos de cerca de US$ 6,6 bilhões.
O governo estima que o México precisará de investimentos em eletricidade de US$ 131 bilhões entre agora e 2030, incluindo US$ 15 bilhões em linhas de transmissão que, pela primeira vez, poderão contar com investimentos privados.

As autoridades mexicanas veem incentivos para os fornecedores no tamanho da economia, perspectivas de crescimento e no fato do mercado atacadista privado ainda ser incipiente. Salinas, da Orrick, ressaltou que os leilões atraíram não apenas geradoras de energia, mas também fabricantes de equipamentos.

"A linha entre o fornecedor e o gerador não está tão clara. Acredito que agora nós estamos falando sobre [as tecnologias] eólica, solar ou geotermal. Parece haver mais uma competição entre essas tecnologias do que entre diferentes tipos de participantes", disse ele.

Um exemplo é a americana SunPower Corp., que conquistou cerca de 25% dos contratos de energia solar leiloados pela CFE em março. A empresa informou em agosto que planeja transferir sua fábrica de equipamentos de painéis solares das Filipinas para sua fábrica existente no noroeste do México para "aperfeiçoar nossa cadeia de suprimento e migrar a montagem final dos painéis para mais perto dos principais mercados". 

Fonte: Valor Econômico