Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Setor elétrico brasileiro no radar do CDPQ

Em: 01/06/2022 às 09:55h por Canal Energia

Após comprar ativos da Terna na América Latina, fundo canadense se aproxima de mais aquisições ainda este ano

 



Depois de fincar os pés no setor elétrico brasileiro com a compra dos ativos da transmissora Terna na América Latina, o CDPQ (Caisse de Dépôt et Placement du Québec) mantem e aguça o interesse na área de energia no país. Em 2019, o fundo canadense já havia participado da compra da transportadora de gás TAG, uma das maiores operações de aquisição registradas até hoje. De acordo com o vice-presidente de infraestrutura para a América Latina, Eduardo Farhat, do CDPQ, fatores como a estabilidade regulatória da transmissão e o novo mercado do gás trazem o incentivo para investir no Brasil, sem limites de destinação. “Nos sentimos bastante motivados a continuar investindo no setor de energia no Brasil. Não vemos grandes limitações em termos do que a gente possa vir a fazer.”, afirma.

O executivo se mostra otimista para ainda este ano para anunciar mais aquisições. O CDPQ negocia com a EDP a compra das hidrelétricas de Santo Antônio do Jari (392,5 MW) e Cachoeira Caldeirão (219 MW), ambas no Amapá. A aquisição ainda não está fechada. Segundo Farhat, os novos investimentos podem ser novamente na área de transmissão ou de geração. Investimentos em fontes fósseis estão descartados, por conta da política de meio ambiente do fundo. O Brasil consegue se inserir nas diretrizes ambientais do CDPQ, uma vez que tem a sua matriz amplamente dominada por energia limpa a renovável.

Apesar de ter atuado somente em projetos já em operação, Farhat conta que os greenfields também estão no radar. Em Taiwan o fundo é um dos investidores de um parque eólico offshore de 600 MW, totalmente novo. Fora da área de energia, o metrô de superfície de Montreal, no Canadá, também é um projeto totalmente novo, em que o CDPQ participou da elaboração do traçado e até do próprio do próprio trem que será adotado.

“Não tem grandes dificuldades de fazer o projeto greenfield. Obviamente em determinados setores você vai se sentir menos à vontade do que em outros. Não vemos nenhum impedimento em vir a fazer isso e possivelmente vai acabar acontecendo nos próximos anos aqui no Brasil em energia.”, avisa.

O Brasil tem aparecido bem na América Latina para o fundo. Segundo Farhat, a performance por aqui tem sido boa, com retornos adequados para o tipo de risco, o que tem culminado com a continuidade da alocação de capital intensa no país. “Eu tenho meu time inteiro ocupado com transações baseadas no Brasil. Hoje a gente tem planos ambiciosos para o Brasil”, promete. Apesar da vontade de crescer no Brasil, não há pressa na aquisição de ativos. O objetivo é fazer a transação certa.

A preferência do CDPQ é por ativos de muita qualidade. Investimentos que necessitem de algum tipo de restauração ou apresentem problemas de desempenho significativos, não terão vez. Farhat faz uma comparação do tipo de ativo que interessa, brincando com marcas de carros de luxo. “Nós somos um comprador de Mercedes, BMWs e Audis, mas gostamos de negociar o preço. A gente quer ter em nosso portfólio sempre empresas que são triple’A’, de primeiríssima linha e que tenham bom desempenho ativo”, comenta.

Um ano após a promulgação do novo mercado de gás, Farhat vê um progresso consistente no setor. Ele conta que a TAG vem fazendo cada vez mais contratos com donos de moléculas de gás e offtakers diferentes. “Realmente está abrindo um mercado”, aponta. Antes a estatal Petrobras era a única dona de todos os elos da cadeia, que iam da molécula ao gasoduto de transporte, sendo inclusive o offtaker. Transportadoras como a TAG terão um papel importante no escoamento do gás da camada pré-sal. “Elas são o começo da estrutura de transporte muito bem estruturado e vai fazer com que o gás que é gerado na Bacia de Campos eventualmente venha a ser utilizado pela empresa distribuidora de gás lá do Ceará”, salienta.

Apesar do entusiasmo com o novo mercado do gás, o executivo do CDPQ revela preocupação com decisões locais, como no caso do gasoduto de Subida da Serra. Um decreto do estado de São Paulo estabeleceu critérios de classificação de gasodutos de distribuição em seu território, alterando Subida em Serra para distribuição, ao contrário do que a ANP tinha definido. “Isso de fato não pode acontecer. Se não vai começar a ter by-pass para tudo quanto é lado, simplesmente explode o mercado de gás por interesses regionais pequenos e individuais”, adverte.

O PL 414 também é visto por ele como um passo benéfico para o setor, já que há inovações que vão auxiliar a mitigar problemas ocorridos, como a recente crise hídrica. Os resultados das eleições presidenciais também não assustam, já que o CDPQ atua com horizonte de 20 a 30 anos e o setor já tem uma maturidade regulatória que reduz volatilidades.