Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição

de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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93% da energia gerada em MT provém da matriz hídrica

MT responde por 3,2% da capacidade instalada nacional, com baixo aprov

Em: 23/09/2019 às 09:30h por JORNAL A GAZETA

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Outras fontes aos poucos ganham espaço, como a produção a partir do bagaço de cana, resíduos de madeira, biogás e solar

SILVANA BAZANI
DA REDAÇÃO



Mato Grosso produz energia essencialmente de origem renovável. No mundo, essas fontes representam apenas 1% da matriz energética total, prevalecendo a geração de energia por fontes limitadas. Localmente, a geração hidráulica é majoritária, com participação de 93% entre todos os recursos energéticos disponíveis. Outras fontes renováveis ainda têm participação pequena na produção energética estadual, a exemplo do bagaço de cana, resíduos de madeira, biogás e solar. Estas 3 últimas somam apenas 0,6%, atualmente.


Entre aquelas não renováveis, o gás natural chegou a responder por 22% da geração elétrica no Estado, em 2014, enquanto havia fornecimento do insumo importado da Bolívia. Em 2017, a participação do combustível gasoso na matriz energética estadual caiu para 4,9%, devido à suspensão no abastecimento. No mês passado, o fornecimento de gás natural para geração térmica em Mato Grosso, por meio da Usina Governador Mário Covas (Termelétrica de Cuiabá), foi retomado por meio de contrato entre a Companhia Matogrossense de Gás (MT Gás) e a GasOcidente de Mato Grosso (GOM), empresa pertencente
à Âmbar Energia e que detém, ainda, o gasoduto no lado brasileiro. Para assegurar o abastecimento duradouro do gás natural
boliviano a Mato Grosso, o governador Mauro Mendes (DEM) assinará na próxima quarta-feira (25), em Santa Cruz de la Sierra, um contrato entre a MT Gás e a estatal Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB).


Com o crescimento da exploração do potencial energético é esperado que a fonte hidráulica permaneça preponderante na matriz matogrossense. Fontes de geração a biomassa terão participação mais efetiva nos próximos anos, com maior aproveitamento do bagaço de cana, dos resíduos de madeira e da produção do biogás. A energia solar fotovoltaica avança em maior escala, principalmente nos setores comercial e industrial.


“Neste horizonte de projeção, no ritmo atual, podemos esperar que a capacidade instalada de produção de eletricidade em
Mato Grosso seja duas vezes superior à que temos hoje”, considera o engenheiro eletricista e professor da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), Ivo Leandro Dorileo. Vice-coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em
Planejamento Energético (Niepe) da universidade, Dorileo integra a equipe de 6 pesquisadores que elaborou um estudo
sobre o potencial de produção de energia sustentável em Mato Grosso, a pedido do governo do Estado.


Intitulado Plano Estratégico de Desenvolvimento de Energia Renovável, subsidia o governo com informações e norteia o desenvolvimento de políticas públicas para estimular a geração de energia sustentável, com uso racional dos recursos naturais, explica a assessora internacional do governo de Mato Grosso, Rita Chiletto. O documento foi entregue à ONU Meio Ambiente, autoridade global em meio ambiente e agência do Sistema das Nações Unidas (ONU). Conforme ela, o diagnóstico traçado pelo Niepe/UFMT contribui para aperfeiçoar a segurança e confiabilidade do sistema elétrico. Assim, propiciará o suprimento de eletricidade mais barato ao consumidor, a geração de emprego e renda e o apoio ao desenvolvimento e implementação do Programa de Economia Verde no Estado de Mato Grosso. “A visão global da Parceria para a Ação sobre Economia Verde (Page) é contribuir para a transformação equitativa e sustentável das estruturas econômicas nacionais, com o objetivo de obter a sustentabilidade ambiental, a geração de trabalho decente e a promoção do bemestar humano”, resume. Nesse sentido, cada país deve buscar seu caminho para o desenvolvimento sustentável, baseado em suas prioridades nacionais e recursos disponíveis. Compete a Page apoiar cada país na adoção e formulação de “políticas públicas verdes”, explica.


O diagnóstico aponta que a geração elétrica por meio dessas fontes de energia renováveis e com participação ainda minoritária no Estado, terá que ser estimulada com incentivos financeiros e novas tecnologias, criando um sistema
regulatório adequado. Para Dorileo, a introdução de novas fontes poderá refletir positivamente na expansão da oferta de
eletricidade estadual, atendendo plenamente a demanda pelos próximos 30 anos. “Este apoio vem do governo com a participação intensa da sociedade e do setor energético”.

 

Mato Grosso responde atualmente por 3,2% da capacidade instalada nacional, com baixo aproveitamento do seu potencial
hidráulico e de outras fontes, avalia o especialista. Segundo o Balanço Energético de Mato Grosso e Mesorregiões 2018, a
geração elétrica estadual alcançou 19,848 mil gigawatts-hora (GWh) em 2017. Superavitário na produção, o Estado
forneceu o dobro da energia consumida naquele ano em âmbito estadual e que totalizou 9,2 mil GWh. Como a energia
gerada é disponibilizada para todo o país por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN), a eletricidade excedente produzida
por Mato Grosso é consumida em outras localidades brasileiras.


Expansão


Entre 2015 e 2018, a geração de energia solar apresentou crescimento de 564%. Projeções para 2050, num contexto de
aproveitamento total do potencial, indicam um nível de produção de 1,01 gigawattsmédios (GWmédios), equivalente a potência instalada atual no Estado. A produção fotovoltaica conta com incentivos para conexão à rede, com vantagens para o
consumidor-gerador.


Com o aproveitamento dos resíduos agroflorestais é possível injetar no SIN 26 mil MWh, apenas com a produção proveniente de madeira em toras. Da mesma forma, a geração de energia com o biogás da suinocultura, cuja produção atual é de 4,2
MW, pode ser dobrada no curto-médio prazo, afirma o representante do Niepe. Em relação à produção hidráulica, os
empreendimentos mais importantes que poderão adicionar potência às matrizes local e brasileira estão em boa parte na bacia
Amazônica e do Araguaia-Tocantins, indica Dorileo. “Muitos por meio de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que merecem um olhar cuidadoso, mas técnico sobre a sustentabilidade e a viabilidade de seu aproveitamento”.


Para o horizonte de 2027, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê expansão de 715,6 MW na geração,
computados os 401 MW da UHE Sinop e que iniciou sua operação plena este mês.


Efeito na ponta


Aumento na oferta de energia atrelado ao uso de fontes mais baratas, à geração descentralizada, à autogeração e à
eficiência energética podem colaborar para um custo menor ao consumidor.
No sistema interligado, para o universo de consumidores, a competição entre as fontes com preços diferenciados, pode ajudar a trazer a tão almejada “tarifa a preços módicos”, com apoio de mecanismos regulatórios, como preceitua a lei de concessão do serviço de eletricidade, considera Dorileo.



Para ele, o uso de fontes renováveis na geração distribuída, que impactam menos o meio ambiente, se tornará mais atrativo, tanto em tecnologia mais amigável quanto em preços. Poderão assim, no médio prazo, atingir um conjunto maior de consumidores que hoje não tem condições de investir em geração própria, pondera o professor. “Isso traria benefícios diretos de redução de custos”.