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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Falta ao país um plano estratégico de longo prazo

Falta ao país um plano estratégico de longo prazo

Em: 02/05/2019 às 09:36h por

Oitavo maior consumidor de energia do planeta, o Brasil busca se posicionar no tabuleiro da transição energética mundial. Por aqui, o processo deve considerar a vocação energética do país, que possui uma das matrizes mais limpas do planeta.

De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN), a matriz brasileira possui 43% de participação de fontes renováveis. Para efeito de comparação, a média mundial é de 13,7%, enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de apenas 10,1%.

Considerando apenas o parque de geração de energia elétrica, a participação de renováveis é ainda maior, de aproximadamente 80%. A média mundial é de 25%.

O Brasil, no entanto, ainda carece de um estudo de expansão de oferta de energia de longo prazo. O último levantamento do tipo, o Plano Nacional de Energia (PNE) 2030, lançado em 2007, antes do "boom" da fonte eólica, está defasado. O mercado aguarda para até o fim do ano a divulgação do PNE 2050, que definirá as linhas estratégicas do governo brasileiro para o setor energético nas próximas três décadas.

"Estamos trabalhando nossa visão para 2050", diz o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral. Uma projeção antecipada pelo executivo é que a demanda de energia total do país, atualmente de 300 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) deve dobrar até 2050, considerando um desempenho razoável da economia brasileira.

Segundo Barral, enquanto países desenvolvidos trabalham em uma agenda de intensificação da eletrificação de infraestruturas e modais para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o Brasil deve considerar sua vocação para a bioenergia. Em outras palavras, enquanto países europeus defendem a eletrificação da frota de veículos, o Brasil deve estimular o seu modelo de carros híbridos flex, fazendo uso do etanol. No caso do diesel, deve ser explorado o benefício do biodiesel.

"Estamos no processo de construção da visão compartilhada de transição energética no Brasil. É preciso definir como nossa transição energética se enquadra na geopolítica global", explica Barral. "O problema do Brasil não é de potencial [de oferta]", completa.

As oportunidades de limpeza da matriz estão no segmento de transportes, que ainda tem grande participação de combustíveis fósseis. Considerando apenas o setor de transportes do país, a participação de renováveis é de 20%. Ainda assim a proporção é maior do que a média mundial, de 5%.

"A eletrificação tanto de veículos leves quanto de veículos pesados, as opções de ciclovia, patinetes elétricos, compartilhamentos de carros, todas essas são soluções de mobilidade que buscam atacar tanto o problema de congestionamento quanto de poluição do ar e emissão de gases do efeito estufa", afirma Clarissa Lins, sócia-fundadora da consultoria Catavento.

Segundo Barral, entre as linhas gerais da estratégia brasileira para a transição energética no segmento de transportes, em elaboração pelo governo, está o maior uso de biodiesel na composição do diesel para veículos de carga e a eletrificação de ônibus urbanos.

Bruna Mascotte, da Catavento, destaca ainda a importância de a solução brasileira para a mobilidade considerar o aspecto de inclusão social. "Tem que ser escolhas de mobilidade que sejam limpas, eficientes, acessíveis e inclusivas. Em cidades em países emergentes, é preciso tomar cuidado nessa transição energética para não aumentar ainda mais a exclusão [social], seja por meio de tecnologia, seja por soluções que sejam muito caras", afirma.

Fonte: Valor Econômico