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de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso

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Desafios da Eficiência Energética na Indústria

Desafios da Eficiência Energética na Indústria

Em: 10/04/2019 às 10:09h por

O consumo racional de eletricidade é um dos caminhos para o desenvolvimento sustentável do Brasil nos próximos anos. No caso da indústria, a eciência energética (EE) consiste em manter – ou até aumentar – os níveis de produção ao mesmo tempo em que se diminui o consumo de energia.

A redução do consumo de eletricidade tem o potencial de estimular a produtividade e a competição das rmas, além de reduzir as externalidades ambientais negativas relacionadas à sua produção.

Este relatório tem por objetivo avaliar a dinâmica do setor industrial brasileiro em relação à eciência energética e à eciência produtiva com base em uma vertente de estudos econômicos recentes, que caracterizam como a alocação eciente de recursos (capital, trabalho, eletricidade, etc.) afetam produtividade.

Desta forma, indicadores são desenvolvidos para avaliar a eciência na utilização de insumos e o potencial para ganhos produtivos. A análise é realizada a partir de dados anuais ao nível da planta industrial, abrangendo 106 setores das indústrias extrativas e de transformação, no período de 2003 a 2015.

Na primeira parte do trabalho, a decomposição de Olley e Pakes (1996) é utilizada para investigar a evolução da eciência energética e eciência produtiva. Nessa decomposição, as medidas de eciência são separadas em dois fatores: a eciência da rma típica, que caracteriza a eciência na utilização de recursos dentro da rma; e o Indicador de Qualidade Alocativa (IQA), que mede a eciência de alocação de recursos entre as rmas do mesmo setor.

A análise da evolução de cada componente permite uma avaliação de diferentes aspectos da eciência na alocação de recursos. Por exemplo, mudanças nas condições do ambiente econômico (tecnologia, nanciamento, instituições, política pública) podem promover maior eciência via melhoria na utilização de recursos dentro das rmas (eciência da rma típica) ou pela maior participação de mercado das rmas mais ecientes (IQA).

Na segunda parte, a metodologia de Hsieh e Klenow (2009) é utilizada para a construção de exercícios de simulação sobre o impacto produtivo de diferentes cenários de melhoria na utilização de recursos.

Dada uma realocação dos insumos produtivos entre rmas, ou seja, do capital, trabalho e eletricidade, a produtividade total dos fatores (TFP) do Brasil poderia alcançar ganhos de 81% em 2015.

Quando consideramos que não existe distorção no uso do capital em relação ao trabalho, os ganhos potenciais obtidos com a realocação dos fatores são de apenas 15%, enquanto na ausência de distorção apenas sobre eletricidade o ganho potencial é estimado em 76%.

Desta forma, as distorções de capital se provam mais relevantes na explicação dos ganhos potenciais da realocação do que as distorções do uso da eletricidade.

Os resultados não apenas mostram o potencial econômico da agenda de eciência energética no Brasil como também ilustra alguns de seus desaos. Primeiro, eciência energética e eciência produtiva na indústria brasileira estão relacionadas, ou seja, os desaos de promoção da eciência no Brasil estão alinhados a questões mais amplas sobre a produtividade do setor.

Segundo, apesar das condições do ambiente econômico propiciarem uma maior eciência das rmas típicas, essas condições têm reduzido a participação de mercado das rmas mais ecientes.

No período analisado, a queda observada no IQA sugere que as rmas mais ecientes (sob a ótica energética ou produtiva) estão perdendo espaço. A promoção de eciência energética precisa reverter esse processo. Por m, na perspectiva do setor, melhor alocação de capital gera maiores ganhos produtivos que melhorias na eciência energética.

Dessa forma, para que a agenda de eciência energética, que tem benefícios sociais mais amplos que os benefícios privados, seja efetiva, é necessário um trabalho de convencimento e estímulo ao setor.

Essa análise torna-se ainda mais essencial tendo em vista que, apesar da preocupação do governo brasileiro em promover a eciência energética[1], os avanços obtidos no país em comparação ao resto do mundo mostram que ainda há um longo caminho para se alcançar níveis ótimos de uso da energia.

Como apresentado pelo Conselho Americano para uma Economia Energeticamente Eciente, o país encontra-se na 20ª posição em um ranking de 25 países avaliados em relação às suas políticas e esforços para promoção da EE (ACEEE, 2018). [2]

No relatório Panorama da Eciência Energética no Brasil (Assunção e Schutze (2017)), os autores mostram que o setor residencial tem sido o principal foco dos programas e nanciamentos disponíveis no país.

As políticas de eciência energética têm ocorrido principalmente de forma reativa a choques na oferta de energia, ao invés de ser parte de um planejamento energético de longo prazo.

Logo, restam poucos incentivos para a redução do consumo de eletricidade das rmas brasileiras. Como principal consumidor de energia no país[3], no entanto, a indústria tem um enorme potencial para a expansão de medidas de EE.

A experiência internacional também tem apontado diculdades na realização dos ganhos de eciência energética. A baixa adoção de equipamentos energeticamente ecientes e os níveis subótimos de investimento estão associados a uma série de barreiras, como concentração de mercado e altos custos ou informação imperfeita, os quais impedem a exploração completa dos potenciais de conservação de energia (Gerarden et al. (2017), Allcot e Greenstone (2012), Häckel et al. (2017)).

Consumidores – rmas, domicílios etc. –, muitas vezes, não estão dispostos a pagar mais por produtos mais ecientes, pois não conhecem realmente quais serão os retornos de tais medidas, levando a um menor aproveitamento das oportunidades de conservação de energia (Allcot e Greenstone (2012)).

Restrições de acesso a crédito enfrentadas por pequenas e médias rmas, além de fatores ligados ao bom desempenho das rmas e características setoriais e regionais também têm impedido que os potenciais de eciência energética sejam alcançados (DeCanio e Watckins (1998), Fleiter et al. (2012), Ryan (2016), Davis et al. (2018)).

Este relatório desenvolve, portanto, uma série de exercícios econômicos com o intuito de analisar de que maneira a eciência da alocação energética está relacionada à produtividade das empresas na indústria brasileira e seus efeitos sobre o produto agregado.

A primeira seção apresenta a trajetória da EE e da produtividade na indústria brasileira ao longo dos últimos anos. As seções seguintes decompõem e detalham esses resultados. Já a última seção consiste na análise dos ganhos potenciais da indústria dada uma alocação eciente dos recursos.

[1] A EE faz parte dos compromissos ambientais rmados pelo país através da sua Contribuição Nacionalmente Determinada (Nationally Determined Contribution – NDC).

[2] The 2018 International Energy Eciency Scorecard (ACEEE, 2018).

[3] 33% do consumo total em 2016 (EPE, 2017).

Fonte: Ambiente Energia
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